A República Romana
Regressado a Itália
para preparar a expedição a África e combater o que restava dos exércitos de
Pompeu, César, desapontado com a gestão desbragada de Marco António, e apesar
do seu contributo no domínio dos insurgentes republicanos, Milo, Célio e
Dolabela, substituiu-o no cargo de Regente de Itália por Lépido, e seguiu para
a Sicília.
Em África tinham-se
reunido as tropas de Pompeu, sobreviventes das batalhas de Farsália, Dirráquio,
de Corcira e de todo o Oriente, a que se fora juntar Marco Octávio com a esquadra
da Ilíria, onde a sublevação fracassara.
Aí, as forças
republicanas eram governadas por Varo com o apoio rei númida - Juba -, sob a
presidência de Catão. A fúria de vingança uniu númidas e romanos na destruição
das cidades inimigas e na chacina implacável de todos os prisioneiros, apesar
da oposição de Catão, que, apesar de tudo, conseguiu salvar Utica.
Juba, Varo e Metelo
Cipião, ambicionavam o lugar de Comandante em Chefe das forças republicanas, as
quais preferiam Catão, tendo este escolhido Cipião - descendente de Cipião
Africano - para o cargo.
Presidindo em Utica
ao anti Senado romano, Cipião, cumpria, com zelo e firmeza, um dever que sabia
condenado ao fracasso. Armando Libertos e Líbios, constituiu catorze legiões,
quatro das quais eram númidas armadas à romana, a que se juntavam mil e seiscentos
cavalos germanos e celtas, um esquadrão de cavalaria ligeira de númidas - com besteiros
a pé e a cavalo -, cento e vinte elefantes e a esquadra de cinquenta e cinco
navios comandada por Públio Varo e Marco Octávio. Com os abundantes mantimentos
reunidos e contando ainda com a sublevação das tropas cesaristas da Campânia, esperava-se
obter a desforra de Farsália e restaurar a República.
Do outro lado, César,
que sempre soubera conduzir e motivar as suas tropas nas condições mais
adversas graças ao seu engenho e ousadia, enfrentava agora a rebelião das
legiões da Campânia; fartas de combater campanhas atrás de campanhas,
recusavam-se a partir para África, exigindo as baixas e tudo o que lhes tinha
sido prometido depois da expedição à Gália; saques, terras e espólios.
Uma comissão de
Senadores enviada por César e comandada pelo historiador Salústio à Campânia, com
o fim de persuadir os insurgentes, fracassou, tendo sido insultado o emissário
e mortos alguns senadores. Decididos, os soldados marcharam sobre Roma exigindo
as baixas e as terras a César.
Este, perito em controlar
homens e multidões, que para cada crise inventava um novo expediente, não se
intimidou; foi a Roma ao encontro das legiões, e da tribuna do Foro interpelou
os soldados, perguntando-lhes, com desdém, o que pretendiam.
Quando, milhares de
vozes em uníssono lhe responderam ruidosamente que queriam as baixas,
respondeu-lhes que já as tinham e que lhes daria tudo o que lhes prometera no
dia do seu triunfo…com outras tropas, chamando-lhes quirites (burgueses), com desdém.
Feridos no seu
orgulho militar, descontentes, envergonhados e ofendidos, os soldados
murmuraram entre si - pois não haviam de ir com o seu general até ao fim da
guerra?-, acabando em uníssono, a pedir perdão a César, implorando que os
levasse a África.
Este anuiu
perdoando-lhes a leviandade e afirmando, entre aclamações delirantes, que lhes
daria tudo o que prometera e que compraria, com o seu dinheiro, as terras
necessárias se as do Estado não fossem suficientes.
Assim
terminou a insurreição.
Créditos: História da República Romana, de Oliveira Martins
Peniche, 12 de Novembro de 2022
António Barreto
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