O Povo e a Ralé
“ Se o erro comum dos nossos tempos é imaginar que a propaganda pode conseguir tudo e que um homem pode ser persuadido a fazer qualquer coisa, contando que a persuasão seja suficientemente forte e atraente, era crença comum naquela época que “a voz do povo era a voz de Deus” e que a tarefa de um chefe era, como disse Clemençeau com tanto desdém, seguir essa voz com esperteza. As duas atitudes derivam do mesmo erro fundamental de considerar ralé idêntica ao povo e não uma caricatura dele.
A ralé é fundamentalmente um grupo no qual estão representados resíduos de todas as classes. É isto que torna tão fácil confundir a ralé com o povo, o qual também compreende todas as camadas sociais. Enquanto o povo, em todas as grandes revoluções, luta por um sistema realmente representativo, a ralé brada sempre pelo “homem forte”, pelo “grande chefe”. Porque a ralé odeia a sociedade da qual é excluída e odeia o parlamento onde não está representada. Os plebiscitos, portanto, com os quais os chefes modernos da ralé têm obtido resultados tão excelentes, correspondem à tática dos políticos que se estribam na ralé. “
Hannah Arendt em: “As Origens do Totalitarismo”
Peniche 18 de Junho de 2023
António Barreto
Sem comentários:
Enviar um comentário