Das Ideologias e da Ciência
“A extraordinária força da persuasão decorrente das principais ideologias do nosso tempo não é ocidental. A persuasão não é possível sem que o seu apelo corresponda às nossas experiências ou desejos ou, por outras palavras, as necessidades imediatas. Nestas questões, a plausibilidade não advém nem de factos científicos, como vários cientistas gostariam que acreditássemos, nem de leis históricas, como pretendem os historiadores nos seus esforços para descobrir a lei que leva as civilizações ao aparecimento e ao declínio. Toda a ideologia que se preza é criada, mantida e aperfeiçoada como arma política e não como doutrina teórica. …O seu aspeto científico é secundário. Resulta da necessidade de proporcionar argumentos aparentemente coesos e assume características reais, porque o seu poder persuasório fascina também cientistas desinteressados pela pesquisa propriamente dita e atraídos pela possibilidade de pregar à multidão as novas interpretações da vida e do mundo. É graças a esses pregadores “científicos”, e não a quaisquer descobertas científicas, que não há praticamente uma ciência cujo sistema não tenha sido profundamente afetado por questões raciais….
...A doutrina do “Direito” precisou de vários séculos (do XVII ao XIX) para conquistar a ciência natural e formular a “lei” da sobrevivência dos mais “aptos”. ...A culpa não é da ciência em si, mas de certos cientistas não menos hipnotizados pelas ideologias que os seus concidadãos menos cultos.”
Hannah Arendt em “As Origens do Totalitarismo”
Peniche, 25 de Junho de 2023
António Barreto
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