Desporto

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Colonialismo e “Africanismo”


Meninos brincando no cais do porto de pesca artesanal em Tema, no Gana
 
 
Duarte Branquinho, no editorial de “O Diabo” de 4 de Setembro de 2012, sob o título “O fardo do Homem branco” - título do poema de Rudyard Kipling normalmente associado ao dever dos povos europeus promoverem o desenvolvimento dos outros povos e considerado de racismo eurocêntrico -, refere que: “Hoje o fardo é outro. Incrivelmente, passados tantos anos, os europeus continuam a ser repetidamente culpabilizados pelo atual estado dos países que outrora dominaram” (eu próprio defendi o mesmo na sequência da minha visita ao Forte de S.João da Mina). Isso mesmo refere o historiador Niall Ferguson no seu livro “Civilização: “Nenhum autor sério poderá afirmar que o reinado da civilização ocidental foi imaculado. Contudo, há quem afirme que não teve absolutamente nada de bom. Esta posição é absurda”.

Porém, segundo o articulista, o historiador Vitorino Magalhães Godinho, explicou que; “por não existir a ideia de nação em África, os novos países construíram um passado próprio, passando a dizer que tudo quanto os colonizadores tinham trazido era mau, que eram todos uns criminosos, que tinham de pedir desculpa”. Recusando tais pedidos de desculpa, terá ainda afirmado: “o que é condenável é esconder o que se passou! Mas eu não tenho nada a ver com o que fizeram os homens no século XV! A culpa não se transmite de pais para filhos, não é hereditária.” Terá dito ainda acerca da escravatura: “Esta existia entre os povos africanos; os portugueses utilizaram as redes de escravatura existentes. Os régulos gostavam muito de vender os seus negros como escravos. E isso permanece! Terá referido ainda a continuidade dessa postura aré aos atuais chefes políticos dos estados africanos, a cujos bolsos vão ter os subsídios atribuídos aos seus países”.

Termina o articulista dizendo que “É tempo de acabar de vez com o fardo da culpabilização unívoca”.

Em “O Diabo” de 18 de Setembro de 2012, na página 1O, num trabalho sob o título “A escravatura infantil não é uma brincadeira de crianças” dá-nos conta do empenho da ONG “Filhos do Coração” em combater os negócios ilícitos que se fazem no Gana com crianças.

No desenvolvimento, situa o início “desta história” em 2007, quando a jornalista da TVI Alexandra Borges apresenta uma grande reportagem intitulada “Infância Traficada”, segundo a qual “na República do Gana há crianças de 3 e 4 anos que são vendidas pelos próprios pais, por menos de 30 euros, a traficantes que as revendem a pescadores para serem escravizadas no Lago Volta , o maior lago artificial do mundo. Estas crianças trabalham 14 horas por dia, sete dia por semana, faça chuva ou faça sol, estejam ou não doentes, em troca de um prato de mandioca.”

Segundo aquela ONG, “estas crianças são conhecidas como Kobies e Kofies, conforme o dia em que foram vendidas, porque desconhecem a sua idade e identidade. Algumas morrem afogadas no lago porque não sabem nadar, outras são assassinadas pelos pescadores que as atiram vivas aos crocodilos. Apesar do conhecimento geral desta prática e da criminalização legal da mesma, parece que ninguém se preocupa, razão que levou a citada jornalista a criar a referida ONG com o fim de alertar a comunidade internacional e pressionar o governo do Gana a combater este flagelo.

Admirável, ALEXANDRA BORGES, com a colaboração de LUIS FIGO, e da pintora ANA CARDOSO, escreveu o livro “Filhos do Coração”, editando em seguida um CD com o mesmo título, tendo obtido uma receita de 150 mil euros. Regressou ao Gana em 2009, fundou uma escola com uma ONG norte-americana Touchalifekids” e resgatou 13 crianças escravas do Lago Volta, a quem está a pagar os próximos 10 anos de vida, adiantou a “Filhos do Coração”, referindo ainda, que, o resgate destas crianças não é pago, investindo-se na consciencialização dos pescadores que as escravizam e que a saúde, alimentação, segurança e escolaridade de cada uma destas crianças custa mil euros/ano.”

“Até agora, 93 crianças já foram resgatadas” mas Alexandra Borges está convicta de que “não vale a pena resgatar mais crianças escravas do lago porque serão rapidamente substituídas. O único caminho é a denúncia para acabar, de uma vez por todas, com este atentado aos direitos humanos. É a indiferença que está a matar as crianças do Gana”.

A miséria provoca desumanidade, já o sabíamos. Uma das recordações mais bonitas que trouxe da minha breve passagem pelo Gana foi precisamente as mães nas suas improvisadas tabancas cuidando de seus meninos, ou carregando suas bacias à cabeça com eles às costas. Não esquecerei o sorriso e a felicidade daqueles dois meninos, precisamente de 3 a 4 anos, brincando no cais do porto de pesca, quando dei um beijo na face de cada um e os fotografei, suscitando a satisfação geral dos adultos negros em volta.

Estarão estes ou outros meninos condenados a esta pavorosa infâmia? Será que os pais vendem os filhos por não terem possibilidades de os sustentar acreditando que, dessa forma, têm possibilidade de sobreviver? Será que, o desespero da sua própria sobrevivência, destrói completamente o afeto paternal e maternal ao ponto de sacrificar os filhos? Será que, lá como cá, algumas pessoas são, simplesmente destituídas de afeto? Quem sabe explicar? Finalmente, levanta-se a derradeira questão; se os negros se matam uns aos outros, indiscriminadamente, seja porque razão for, ninguém se indigna? Quanta hipocrisia afinal há nos atuais dirigentes negros que exploram, escravizam e aniquilam o seu próprio povo, ao acusarem os colonizadores das desgraças que os afetam?

Afinal, parece que, todo este tema, tem que ser revisitado a uma nova luz, em que muitos dos autoproclamados “libertadores” da opressão colonial, se transformaram, hoje, nos exploradores e exterminadores dos seus próprios povos em proveito próprio e dos que, hipócritamente, os apoiaram.

AB

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