Meninos brincando no cais do porto de pesca artesanal em Tema, no Gana
Porém, segundo o articulista, o
historiador Vitorino Magalhães Godinho, explicou que; “por não existir a ideia
de nação em África, os novos países construíram um passado próprio, passando a
dizer que tudo quanto os colonizadores tinham trazido era mau, que eram todos
uns criminosos, que tinham de pedir desculpa”. Recusando tais pedidos de
desculpa, terá ainda afirmado: “o que é condenável é esconder o que se passou!
Mas eu não tenho nada a ver com o que fizeram os homens no século XV! A culpa
não se transmite de pais para filhos, não é hereditária.” Terá dito ainda acerca
da escravatura: “Esta existia entre os povos africanos; os portugueses
utilizaram as redes de escravatura existentes. Os régulos gostavam muito de
vender os seus negros como escravos. E isso permanece!” Terá referido ainda a continuidade
dessa postura aré aos atuais chefes políticos dos
estados africanos, a cujos bolsos vão ter os subsídios atribuídos aos seus
países”.
Termina o articulista dizendo que “É tempo
de acabar de vez com o fardo da culpabilização unívoca”.
Em “O Diabo” de 18 de Setembro de
2012, na página 1O, num trabalho sob o título “A escravatura infantil não é uma
brincadeira de crianças” dá-nos conta do empenho da ONG “Filhos do Coração”
em combater os negócios ilícitos que se fazem no Gana com crianças.
No desenvolvimento, situa o
início “desta história” em 2007, quando a jornalista da TVI Alexandra Borges
apresenta uma grande reportagem intitulada “Infância Traficada”, segundo a qual
“na República do Gana há crianças de 3 e 4 anos que são vendidas pelos próprios
pais, por menos de 30 euros, a traficantes que as revendem a pescadores para
serem escravizadas no Lago Volta , o maior lago
artificial do mundo. Estas crianças trabalham 14 horas por dia, sete dia por semana, faça chuva ou faça sol, estejam ou não
doentes, em troca de um prato de mandioca.”
Segundo aquela ONG, “estas
crianças são conhecidas como Kobies e Kofies,
conforme o dia em que foram vendidas, porque desconhecem a sua idade e
identidade. Algumas morrem afogadas no lago porque não sabem nadar, outras são
assassinadas pelos pescadores que as atiram vivas aos crocodilos.” Apesar do
conhecimento geral desta prática e da criminalização legal da mesma, parece que
ninguém se preocupa, razão que levou a citada jornalista a criar a referida ONG
com o fim de alertar a comunidade internacional e pressionar o governo do Gana a
combater este flagelo.
Admirável, ALEXANDRA BORGES, com
a colaboração de LUIS FIGO, e da pintora ANA CARDOSO, escreveu o
livro “Filhos do Coração”, editando em seguida um CD com o mesmo título, tendo
obtido uma receita de 150 mil euros. Regressou ao Gana em 2009, fundou uma
escola com uma ONG norte-americana “Touchalifekids” e resgatou 13 crianças escravas do Lago
Volta, a quem está a pagar os próximos 10 anos de vida, adiantou a “Filhos do
Coração”, referindo ainda, que, o resgate destas crianças não é pago,
investindo-se na consciencialização dos pescadores que as escravizam e que a
saúde, alimentação, segurança e escolaridade de cada uma destas crianças custa
mil euros/ano.”
“Até agora, 93 crianças já foram
resgatadas” mas Alexandra Borges está convicta de que “não vale a pena resgatar
mais crianças escravas do lago porque serão rapidamente substituídas. O único
caminho é a denúncia para acabar, de uma vez por todas, com este atentado aos
direitos humanos. É a indiferença que está a matar as crianças do Gana”.
A miséria provoca desumanidade,
já o sabíamos. Uma das recordações mais bonitas que trouxe da minha breve
passagem pelo Gana foi precisamente as mães nas suas improvisadas tabancas
cuidando de seus meninos, ou carregando suas bacias à cabeça com eles às costas.
Não esquecerei o sorriso e a felicidade daqueles dois meninos, precisamente de 3
a 4 anos, brincando no cais do porto de pesca, quando dei um beijo na face de
cada um e os fotografei, suscitando a satisfação geral dos adultos negros em
volta.
Estarão estes ou outros meninos
condenados a esta pavorosa infâmia? Será que os pais vendem os filhos por não
terem possibilidades de os sustentar acreditando que, dessa forma, têm
possibilidade de sobreviver? Será que, o desespero da sua própria sobrevivência,
destrói completamente o afeto paternal e maternal ao ponto de sacrificar os
filhos? Será que, lá como cá, algumas
pessoas são, simplesmente destituídas de afeto? Quem sabe explicar?
Finalmente, levanta-se a derradeira questão; se os
negros se matam uns aos outros, indiscriminadamente, seja porque razão for, ninguém se indigna? Quanta hipocrisia
afinal há nos atuais dirigentes negros que exploram, escravizam e aniquilam o
seu próprio povo, ao acusarem os colonizadores das desgraças que os afetam?
Afinal, parece que, todo este tema, tem que
ser revisitado a uma nova luz, em que muitos dos autoproclamados “libertadores” da opressão colonial, se transformaram, hoje, nos exploradores e exterminadores dos seus próprios povos em proveito próprio e dos que, hipócritamente, os apoiaram.
AB
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