Carlos
Lopes é um dos meus heróis desportivos de eleição. Jamais esquecerei a sua
figura franzina e destemida na frente das corridas, resistindo sem pestanejar os
ataques dos adversários, aguardando o seu momento; o momento em que deixaria
todos para trás, brancos, pretos ou amarelos, na direção da meta, que parecia
esperá-lo. Lopes, sob a batuta de Moniz Pereira, venceu a barreira da
mediocridade que caracterizara até aí o desempenho internacional do atletismo
nacional. Além da morfologia propícia ao meio-fundo e fundo,
Lopes distinguia-se, acima de tudo, pela determinação e coragem inauditas que
lhe permitiam enfrentar fosse quem fosse, fosse onde fosse, dentro ou fora da
pista!
Um
grande campeão que superou a barreira clubística arrebatando o entusiasmo de
todos os que admiram o mérito desportivo. Por tudo isto lhe estou grato e muito
satisfeito pela sua recente nomeação para Diretor do Departamento de Atletismo
do SCP; é o homem certo no lugar certo. Desejo-lhe felicidades, ansiando que o
meu Benfica mantenha a trajetória ascendente desta modalidade que tão
brilhantemente tem vindo ser desenvolvida pela nossa extraordinária Ana
Oliveira. Grandes adversários fazem grandes campeões.
Um
grande abraço Carlos Lopes!
A família Lopes era modesta. Carlos começou a trabalhar como servente de pedreiro, ainda não tinha onze anos, para ajudar a sustentar a casa de família. Mais tarde, foi empregado de mercearia, relojoeiro e contínuo. Enquanto adolescente, Lopes ambicionava jogar futebol no Lusitano de Vildemoinhos, o clube da sua aldeia. O clube rejeitou-o por ser excessivamente magro. Como ele próprio contou mais tarde, o atletismo surgiu por acaso. Numa correria com amigos, durante a noite, ao voltar de um baile (correndo em parte para afastar o medo que o vento uivante lhes fazia), Carlos Lopes foi o primeiro, batendo um grupo de rapazes da sua idade que treinavam regularmente e já se dedicavam ao atletismo. Foi nesse grupo de adolescentes que nasceu a ideia de criar um núcleo de atletismo no Lusitano de Vildemoinhos.
A primeira prova oficial de Lopes foi numa corrida de São Silvestre; tinha dezesseis anos. Lopes ficou em segundo lugar, pese embora a presença de corredores bem mais experientes. Pouco tempo depois, ganhou o campeonato distrital de Viseu de crosse, e quase de seguida foi terceiro no Campeonato Nacional de Corta-mato para juniores. Essa classificação, levou-o pela primeira vez ao Cross das Nações, em Rabat, Marrocos. Lopes foi o melhor português, em 25º lugar. Lopes tinha então dezessete anos.
Em 1967, Carlos Lopes foi recrutado pelo Sporting Clube de Portugal, de Lisboa. A ida para Lisboa, deveu-se tanto a razões desportivas, como à promessa de um melhor emprego como serralheiro. É no Sporting que encontra o treinador da sua vida, Mário Moniz Pereira. Moniz Pereira foi o mentor de várias gerações de atletas portugueses de fundo e meio-fundo.
Em 1975, Carlos Lopes e alguns outros atletas do Sporting passam a treinar duas vezes por dia. Lopes era dispensado do seu emprego (entretanto foi contínuo no jornal Diário Popular e num banco) na parte da manhã. Entrava-se assim, na era do semi-profissionalismo.
Em 1976, Lopes ganha pela primeira vez o Campeonato do Mundo de Corta-Mato, que nesse ano se realizava em Chepstown, no País de Gales. Como mais tarde viria a demonstrar, Lopes fez uma corrida demonstrando uma enorme auto-confiança, mostrando resistência, sentido táctico e muito boa ponta final (sprint).
Carlos Lopes, que já tinha estado sem glória nos Jogos de Munique em 1972, era uma das maiores esperanças portuguesas para os Jogos Olímpicos de Montreal, no Verão de 1976. Lopes teve, aliás, a honra de ser o porta-bandeira da equipa portuguesa durante a cerimónia inaugural.
Na final dos 10 000 metros, Carlos Lopes forçou o andamento desde o início. Seguindo as instruções de Moniz Pereira, a táctica era a de rebentar com a concorrência (ou com ele próprio). De facto, Carlos Lopes iniciou o último meio quilómetro bem adiantado do pelotão. Mas não ia só. Lasse Viren, da Finlândia, tinha sido o único a conseguir acompanhar Lopes. Nas últimas centenas de metros, Viren atacou forte, ultrapassou Lopes e ganhou a medalha de ouro. Lopes foi segundo e teve de se contentar com a prata. O finlandês era um atleta de excepção, e ganhou também o ouro nos 5 000 metros.
Era a primeira vez, desde há décadas, que Portugal conquistava uma medalha olímpica, e a primeira vez no atletismo.
Em 12 de Agosto, Carlos Lopes venceu a prova de maratona nos Jogos de 1984, tornando-se o primeiro português a ser medalhado com o ouro nos Jogos Olímpicos.2 A prova foi rápida, e a marca atingida (2h9m21s) foi recorde olímpico até aos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008.
Carlos Lopes Mais do que ser primeiro Herói é quem Sabe dar-se inteiro E dentro de si mesmo, ir mais além. |
Em 2013, Carlos Lopes foi nomeado diretor do departamento de atletismo do Sporting Clube de Portugal .
Recordes Pessoais:
- 5000 metros: 13.16,38 (Oslo - 1984)
- 10000 metros: 27.17,48 (Estocolmo - 1984)
- Maratona: 2.07.12 (Maratona de Roterdão - 1985)
- 3000 metros com obstáculos: 8.39,6 (Lisboa - 1973)
- 1976 venceu o Campeonato do Mundo de Corta-mato.
- 1976 2º Lugar nos Jogos de Montreal.
- 1977 2º Lugar no Campeonato do Mundo de Corta-mato.
- 1982 venceu os 10000 metros de Bislett Games em Oslo
- 1982 venceu a Corrida de São Silvestre de São Paulo, Brasil.
- 1983 2º Lugar no Campeonato do Mundo de Corta-mato.
- 1983 2º Lugar na maratona de Roterdão.
- 1984 venceu o Campeonato do Mundo de Corta-mato.
- 1984 2º Lugar no Meeting de Estocolmo, em 1º lugar ficou outro português, Fernando Mamede.
- 1984 venceu a maratona nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, estabelecendo o recorde olímpico da prova
- 1984 venceu a tradicional Corrida de São Silvestre de São Paulo, no Brasil,
- 1985 venceu o Campeonato do Mundo de Corta-mato (cross-country)
- 1985 venceu a maratona de Roterdão e quebrou o recorde mundial da prova.
- 2 Campeonatos Nacionais 5000 metros (1968, 1983)
- 2 Campeonatos Nacionais 10000 metros (1970, 1978)
- 1 Campeonato Nacional 3000 metros com obstáculos (1975)
- (1972 - Munique) 5000 metros (Qualificações)
- (1972 - Munique) 10000 metros (Qualificações)
- (1976 - Montreal, Canadá) 10000 metros (medalha de prata)
- (1984 - Los Angeles) Maratona (Medalha de ouro)
- (1983 - Helsínquia) 10000 metros (6º lugar)
- (1971 - Helsínquia) 10000 metros (33º lugar)
- (1971 - Helsínquia) 3000 metros com obstáculos (Qualificações)
- (1974 - Roma) 10000 metros (Desistiu)
- (1982 - Atenas) 10000 metros (4º lugar)
- (1976 - Chepstow, País de Gales) (Medalha de ouro)
- (1977 - Dusseldorf) (Medalha de prata)
- (1983 - Gateshead, Inglaterra) (Medalha de prata)
- (1984 - East Rutherford, Estados Unidos) (Medalha de ouro)
- (1985 - Lisboa) (Medalha de ouro)
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