Na sua revista Domingo, o Correio da manhã tem dedicado desde há largos meses uma a duas páginas aos relatos de ex-combatentes da guerra do ultramar, matéria que me é cara pela qual estou grato àquele diário. Desta vez foi Luís Alberto Costa a resumir a sua participação na Guiné onde esteve aquartelado em Farim, zona fronteiriça, alvo de frequentes ataques das forças inimigas, onde assistiu ao agonizar de vários camaradas de armas chegando mesmo a salvar um deles, gravemente ferido, transportando-o, sob fogo, às costas, para a viatura que o haveria de conduzir ao hospital. Mas foi a parte final da sua história que me chamou a atenção, por coincidir com vários outros relatos de gente que viveu de perto essa guerra, e que consiste no estado de desagregação em que se encontravam as altas patentes militares das nossas Forças Armadas, consequência da incansável guerra de subversão que o PCP desenvolveu em várias frentes, com especial destaque nas universidades e escolas militares. Melo Antunes, Victor Alves, Rosa Coutinho e até o Marechal Costa Gomes são apontados por vários autores como exemplos, e, afinal, talvez tenha sido essa a causa remota do 25 de Abril e da trágica descolonização que se verificou.
Relata Luís Costa, que, por terem respondido com fogo ao ataque inimigo perpetrado em 26 de Abril, foi o comandante interino da Companhia, major Meneses, preso por ordem das chefias militares em Bissau, acusado de fascista por ter continuado a guerra, tendo sido posteriormente solto graças a um abaixo-assinado organizado por aquele combatente. Este episódio mostra o estado de insanidade militar que se vivia à época e se difundiu no país com as consequências que se conhecem e que ainda hoje se fazem sentir, para gáudio de alguns e desespero de muitos, mas que mancham instituições centenárias das quais todos nos deveríamos orgulhar.
A minha gratidão ao Luís Costa.
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