Certa vez, ao explicar a um entrevistador o seu entendimento do que é o Benfica, Tony, definiu-o, grosso modo, como uma entidade imaterial resultante do "amor" dos adeptos; essa coisa indefinível com profundas raízes na alma que a eleva e transporta às margens da transcendência. Em última análise, o Benfica é o que são os seus adeptos. O conceito vale para qualquer outro clube. O caso é que os adeptos não são todos iguais; os mais distantes cultivam o mais puro ideal utópico para o qual transferem as suas mais edificantes aspirações; os mais próximos, geralmente, desenvolvem uma cultura de propriedade resultante do seu envolvimento no dia a dia do clube, e que comporta um certo aviltamento. Os jogos de poder, o oportunismo, o proselitismo, o elitismo, a vacuidade, a grosseria, a tirania, o relativismo moral e ético, que lhe são próprios são incompatíveis com o ideal utópico referido, degradando-o. O paradoxo é que, são estes que alimentam o sonho dos outros fazendo funcionar o clube. A lição é que, no dia-a-dia dum clube como o Benfica, os valores éticos e morais têm que ser respeitados por todos, sob pena do desaparecimento da sua substância distintiva e da sua despromoção à vulgaridade. Daqui decorre a necessidade de transparência e participação na gestão e funcionamento do clube sem a qual, este, será uma ficção dos seus adeptos alimentada pelos dirigentes e respetiva corte, conforme a sua própria visão e interesses.
Tudo isto me ocorreu ao assistir à última Assembleia Geral do Benfica, onde foi possível identificar a simultaneidade daquelas duas facetas. Um certo distanciamento, é, em muitos casos, como o meu, uma defesa do adepto perante o perigo eminente da deceção resultante da erosão do seu ideal. E é assim que deve ser, creio.
(Tela de Abel Manta)
António Barreto
Peniche, 30 de Setembro de 20018
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