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segunda-feira, 22 de outubro de 2018

O 25 de Abril visto da História (notas P1)



O 25 de Abril Visto da História
(Livraria Bertrand)
Diálogo entre José António Saraiva e Vicente Jorge Silva em 1976 sobre a atualidade política, em vésperas as primeiras eleições presidenciais
(notas)
 

     Duas das mais prestigiadas figuras do jornalismo nacional contemporâneo, observadores privilegiados do processo dito revolucionário do 25 de Abril de 1974, analistas sagazes de considerável cultura histórica, em vésperas das primeiras eleições presidenciais, revisitam a História à luz dos acontecimentos políticos da época.

    Refere-se, por exemplo, a tradicional fragilidade orgânica da sociedade civil como causa do protagonismo militar nas mudanças de regime em Portugal, como o que acabara de ocorrer; o vazio de poder que se verificou na sequência da destituição do antigo regime, período designado por PREC; a incipiência das estruturas dos novos partidos políticos, PS, PPD e CDS contrastando com a do PCP, robustecida por décadas de luta clandestina antissalazarista - desde 1926; da falta de aderência de todos à realidade social do país, ao qual impuseram modelos externos a que se vincularam; da preponderância do tacticismo político em prejuízo da coerência ideológica; da submissão de todos ao tradicional poder das armas; das vicissitudes e equívocos de alguns dos principais protagonistas do momento histórico; da correlação entre os destinos políticos das ex-colónias e de Portugal europeu, etc..

   Uma das curiosidades interessantes reside na referência ao desacordo de Ramalho Eanes na decisão de reabilitação do PCP, na sequência do 25 de Novembro de 1975, cujo defensor ativo teria sido Melo Antunes. Outra, na constatação de que a formação do atual BE parece ter origem nas que apoiaram a candidatura de Otelo às presidenciais de 1976, como a UDP a FSP e o MES (sendo que grande parte dos membros deste grupo constituem, hoje, a ala esquerda do PS).

   “…Sartre, escreveu algures, escandalosamente, que “nunca fomos tão livres como durante a ocupação alemã”. Talvez se pudesse acrescentar que a esquerda portuguesa nunca foi tão livre, ideologicamente, como durante os cinquenta anos de salazarismo….(VJS)

….O salazarismo emerge como alternativa histórica a esta dupla incapacidade - da burguesia republicana, primeiro, do Exército, depois -…. (VJS)

…O apelo a Deus - o apelo à ideologia - é sempre, evidentemente, um sintoma de incapacidade para resolver um problema. O reconhecimento de uma impotência para ultrapassar uma crise….(JAS)

…Temos assim que países como a URSS, a China ou Moçambique são hoje casos típicos de sociedades ideológicas; aí, onde os programas de desenvolvimento são fabricados em gabinete e impostos de cima para baixo, é condição prévia a existência de um Estado forte – que justifica o seu papel fortemente repressivo em função de uma “cartilha sagrada” existindo acima da própria sociedade e fora de qualquer discussão, e de um partido único que a pratica e impõe ao conjunto do corpo social… Trata-se de reduzir as tensões sociais (leia-se: a dinâmica social), ao zero absoluto – para construir depois sobre o vazio, o Estado absoluto, omnisciente e omnipresente. Aí, tudo se torna oficial. …(JAS)

…A sociedade burguesa é uma sociedade que destrói o espírito religioso porque assenta exclusivamente sobre condições materiais. …. (JAS)

(Foto: Praia de Peniche de cima) 
Peniche,21 de Outubro de 2018
António J.R Barreto

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