O sorvedouro
Duzentos e oitenta milhões
de euros - salvo o erro - foi o que se faturou em transferências no ano em que
o penta se nos escapou por entre os dedos, por uns míseros dois pontos! Pois
nem se reforçou a equipa, nem se amortizou o passivo com esses proveitos!
Recorreu-se à dação de receitas futuras comprometendo a competitividade
desportiva imediata!
Trezentos milhões de euros foi a receita do exercício transato, tendo-se
repetido os erros anteriores; nem se reforçou a equipa adequadamente, ficando
vulnerável nalguns setores, arriscando novo fracasso, nem se vislumbra intenção
de redução do passivo!
Num exercício simplista, mas realista do ponto de vista do adepto comum,
se com tal nível de receitas não há excedentes orçamentais, tal significa que
os encargos de estrutura são demasiado elevados. E mais elevados ficarão com a
execução do projeto de expansão do Seixal!
O estilo
Nem o modo messiânico nem
o de homem providencial são compatíveis com a tradição e cultura do clube, nem
com as práticas da boa gestão. É o que tem prevalecido na retórica e na ação da
Direção atual, substituindo-se à colegialidade e democraticidade mobilizadoras
e criativas.
A reputação
Os casos que nos últimos dois anos vieram a público envolvendo pessoas
ligadas ao Benfica, ainda que não provados em sede própria, ainda que
resultando de ações criminosas externas, produziram danos reputacionais no
clube-sad, constituindo um retrocesso neutralizador, em grande parte, do
magnífico trabalho de credibilização efetuado nos primeiros anos deste ciclo. E,
ainda que nenhuma responsabilidade direta venha a ser atribuída ao clube-sad e,
ou, aos seus dirigentes, eventuais condenações efetivas de figuras próximas,
implicarão sempre demissões ao mais alto nível. Um líder tem sempre
responsabilidade ética relativamente aos atos cometidos pelos colaboradores que
escolheu.
Aa clivagens
A diabolização permanente e persistente da
gerência de Vale e Azevedo pela atual Direção dividiu os adeptos, deixando muitos
deles de “pé atrás”. O efeito pernicioso de tal insistência nunca foi
entendido, nem tão-pouco quão importante era para o clube-sad que os “acertos
de contas” se tivessem feito intramuros. Ou, percebendo-o, tem sido essa a
intenção.
Além da proteção da figura institucional, sobreleva a questão humana; o
ex-Presidente Vale e Azevedo, mesmo após cumprimento integral do cúmulo
jurídico - deve ser caso único na justiça penal portuguesa - tem sido
perseguido implacavelmente, como se, informalmente, tivesse sido condenado a
prisão perpétua! Por mais penas de prisão que cumpra é-lhe sempre negado o
direito à reabilitação! E esta Direção tem “ajudado à festa”! Deplorável!
Não menos grave, é a atitude, envergonhadamente reverencial, a Joaquim
Oliveira e seu universo empresarial. Enquanto se afirma, reiteradamente, o
dever de gratidão do clube-sad para com ele, os adeptos vêm-no como inimigo;
pelo seu vínculo afetivo e institucional ao rival do Porto, pela discriminação
com que uma das suas participadas, a Sport-TV, trata o clube da Luz, pelo
controlo implícito dos clubes pela via do financiamento e por outras afinidades
e alianças frequentemente adversas ao Benfica.
É neste contexto que os adeptos vêm, desde sempre com grande
preocupação, a presença de empresas do grupo Oliveira no clube e a participação
do próprio no concelho de administração da Sad.
Insistir no discurso da gratidão é, pois, insistir no divisionismo e no
enfraquecimento da massa adepta do clube. Pelo contrário; foi o Benfica que
proporcionou a ascensão económica de Oliveira ao conceder-lhe os direitos
desportivos por tuta e meia, os quais lhe permitiram faturar abundantemente,
concretamente pela expansão da Sport-tv,
proporcionando-lhe múltiplos retornos, financeiros e institucionais.
Por coincidência, ou não, o tetra-campeonato sucedeu no período em que o
Benfica detinha os seus próprios direitos desportivos, com orgulho de todos os
adeptos, que viam na BTV a sua guarda-avançada. Não obstante, resolveu a
Direção vender de novo os direitos à mesma entidade, então reformulada,
contribuindo para o ressurgimento da velha estrutura de má memória. O resultado
não se fez esperar; o penta esfumou-se e o BPN recuperou os seus cem milhões
adiantadamente, creio.
E é isto que muitos benfiquistas não perdoam à atual Direção; a
dependência relativamente a um dos administradores de um dos principais rivais,
e esta pretensa magnanimidade relativamente a estes, apesar de, reiteradamente
empenhados na infame tentativa de destruição da reputação do Benfica, visando,
objetivamente, inviabilizar o seu financiamento no mercado de capitais e
consequente estrangulamento financeiro.
Peniche, 23 de Setembro de 2019António Barreto
(Boris Grigoriev, Madre, 1915)
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