sábado, 26 de dezembro de 2020
domingo, 13 de dezembro de 2020
USA - Eleições 2020 (V)
Economia
A análise económica
do mandato da administração Trump
deve dividir-se em dois períodos, o pré-covid - de 2016 até março de 2020 - e o
pós-covid - ainda em curso.
A derrocada económica, vaticinada pelos detratores de D. Trump, resultante da sua ascensão à
presidência dos EUA, não só não se verificou, como manteve ou superou os indicadores
do mandato anterior, no primeiro período. No segundo período verificou-se o
maior colapso económico dos últimos 80 anos, nos EUA.
Vejamos o que nos diz a análise da BBC Brasil realizado em 27
de Setembro de 2020, a partir dos relatórios do Escritório de Análise Económica
dos EUA:
O crescimento
económico médio anual dos primeiros três anos do mandato de D. Trump
foi de 2,5 % contra 2,3 % dos últimos três anos do mandato anterior, sendo que,
neste, em meados de 2014 se verificou um crescimento de 5,5 %. Em abril, maio e
Junho verificou-se uma contração superior a 30 %; três vezes superior à que se
verificou em 1958! Se tal ocorreu apesar da recusa de D. Trump em adotar o confinamento geral, não custa supor que teria
sido bem pior se tivesse feito o contrário. Contudo, a recuperação económica
tem ocorrido com grande rapidez, estimando-se, no final do ano, uma retração do
PIB próxima dos 3 %! Cerca de 1/3 da que se verifica, em média, na Europa, para
o ano em curso. Certo também é que, nos últimos 50 anos, houve períodos de
maior crescimento do que o que ocorreu na fase pré-covid.
Quanto aos mercados
financeiros, nomeadamente S&P 500, apesar da queda abruta do início de
2020, apresenta uma valorização de cerca de 14 % neste ano até à data e um
total de 83 % desde 2016. Já o desempenho do Nasdaq é bem superior, cum uma valorização em 2020 e atá à data de
cerca de 30 % e de 171 % desde 2016! Um desempenho sem paralelo na Europa, com
todas as bolsas negativas em 2020, enquanto a oriente os índices são os índices
chineses que mais se aproximam: Nikkei (13,1 % ytd), CSI 300 (24,1 % ytd),
Kospi (24,2 % ytd), Sensex (9,3 % ytd), e BIST 30 (5,3 % ytd). Tal desempenho
revela que os mercados confiam nas ideias de D. Trump.
Relativamente à taxa
de desemprego, de 3, 5 % antes da pandemia, era a mais baixa dos últimos 50
anos. Mas é verdade que nos últimos três anos de mandato de Obama foram criados
7 milhões de postos de trabalhos enquanto nos primeiros 3 anos do mandato de
Obama foram criados “apenas” 6,4 milhões. Com a pandemia a taxa de desemprego
disparou para 14,7 % em abril - a mais alta desde a Grande Depressão de 1930 -
tendo sido destruídos, num só mês, cerca de 20 milhões de postos de trabalho,
anulando uma década de criação de emprego. Em agosto porém, a taxa de
desemprego já estava em 8,4 %, confirmando a rapidez da recuperação económica.
Os salários médios
por hora no mandato de D. Trump mantiveram
a tendência de subida iniciada no primeiro mandato de Obama, com uma média
anual de 2,1 % naquele e de 2,4 % deste. O efeito da pandemia provocou um
aumento abruto dos salários devido ao desemprego dos trabalhadores de baixas
qualificações, voltando a baixar logo que se iniciou a recuperação económica,
com o regresso daqueles ao trabalho.
Apesar de ter sido
em 1966 sob o mandato de Lyndon B.
Johnson que se verificou a maior redução de pobres num só ano - 4,7 milhões
de pessoas -, contra 4,2 milhões em 2019, é verdade que foi no mandato de D. Trump que se atingiu o mais baixo índice
de pobreza dos últimos 50 anos, 10,5 %, desconhecendo-se ainda a evolução
resultante da crise pandémica. Sucede porém que se verifica grande assimetria
étnica no que diz respeito à população pobre, com cerca de 18,8 % para
americanos negros e de 7,3 % para americanos brancos não latinos.
Conclusão
Donald Trump é um outsider, um corpo estranho na cena política, rejeitado até por
alguns setores do seu próprio partido. Oriundo do mundo empresarial representa
uma reação inorgânica da sociedade civil contra o status quo partidário vigente. É visto como uma ameaça pelo espetro
político estabelecido, sobretudo pelo setor progressista, este divorciado do
país profundo. Apesar do seu estilo algo patético, por vezes grotesco, com uma
linguagem imprudente, direta às vezes incendiária, D. Trump tem uma ideia para o país assente nos valores
tradicionais, na família, na moral cristã, na segurança, no trabalho e na
Pátria. Relativiza a vertente imperialista dos EUA iniciada em 1945, privilegia
o comércio internacional baseado no equilíbrio das trocas, defende maior
cooperação ativa dos aliados militares naturais, abomina as dinâmicas políticas
e económicas prevalecentes assentes na teoria do Aquecimento Global, empenha-se
na causa ambiental privilegiando o gás natural e de xisto, denuncia e combate
frontalmente os promotores do terrorismo global. A apoiá-lo tem uma vasta população
que já não se sente representada pelos partidos tradicionais. As notícias de
fraude eleitoral no processo ainda em curso, a confirmarem-se, significarão, o
início do último estertor das democracias representativas multipartidárias e o
advento de novas ditaduras ou de regimes democráticos de representação direta
alcançáveis a partir dos meios proporcionados pelas novas tecnologias tal como
revelam alguns estudos do MIT (Massachusetts,
Institute Technology).
Fim.
Peniche, 8 de Dezembro
de 2020
António Barreto
sábado, 12 de dezembro de 2020
USA - Eleições 2020 (V)
Sistema de saúde
Crítico da política
de saúde do seu antecessor, D. Trump introduziu-lhe,
gradualmente, algumas alterações. Nem Obama
tinha instituído um sistema de saúde público e universal, nem D. Trump reverteu todas as alterações
introduzidas no seu mandato. O sistema de saúde americano, ineficiente,
dispendioso e insuficiente, é complexo; não há um sistema público universal, nunca
houve, apesar de algumas tentativas, nomeadamente no mandato de Roosevelt - de
1933 a 1945 -, inviabilizadas pelos partidos democrata e republicano. O sistema
de saúde americano é eminentemente privado, consistindo na contratualização
particular de planos de saúde. Contudo tem uma dimensão pública através dos
programas designados por Medicare e Medicaid. O plano Medicare, criado em 1966 e financiado pelo governo federal, destina-se
a cidadãos com mais de 65 anos, que tenham descontado para o sistema de
previdência durante a sua vida ativa, e pessoas incapacitadas para o trabalho,
com serviços diferenciados em função do perfil de cada cidadão. O plano Medicaid destina-se a pessoas de qualquer
idade em condição de carência de recursos sendo financiado pelo Governo Federal
e pelos Estados, que pagam diretamente aos prestadores dos serviços os atos
médicos correspondentes. Neste sistema, os Estados têm plena autonomia para
definir modelos próprios, havendo, por todo o território, clínicas e hospitais
públicos e privados. A contratação de seguros de saúde privados é efetuada
maioritariamente no âmbito empresarial, já que, grande parte dos cidadãos não
têm recursos disponíveis para o fazer. Em 2007, 46 milhões de pessoas não
tinham seguros de saúde; graças ao plano Obamacare
esse número foi reduzindo gradualmente até atingir os 28 milhões em 2016. O
drama são os elevados custos envolvidos que podem levar à ruina de quem não
tenha contratos de seguro nem seja abrangido por um dos sistemas públicos já
referidos - o tratamento de uma perna partida pode atingir os $7500,00,
enquanto a diária num hospital é de $10000,00 aproximadamente.
Tendo, em 2009, ascendido
a $676 bilhões os encargos públicos com os planos Medicare e Medicaid, previa-se
a duplicação dos mesmos no ano 2000. O plano Patient Protection and Affordable Care Act (PPACA ou, em português,
“Lei de Proteção e Cuidados Acessível ao Paciente”), conhecido popularmente
como Obamacare, instituído
em março de 2010, tinha por objetivo primordial reduzir os custos públicos com
a saúde, impondo a todos os americanos a
obrigatoriedade de contratualização de planos de seguro privados.
Alargou-se o plano Medicaid a
mais 15 milhões de cidadãos subsidiando os correspondentes encargos a todas as
pessoas com rendimentos anuais até 4 vezes o salário de pobreza aplicável. Aos
jovens até aos 26 anos foi garantido acesso aos planos de saúde dos respetivos
pais. Todas as empresas com mais de 50 trabalhadores foram obrigadas a
contratualizar seguros de saúde para os respetivos trabalhadores. A todas as
outras que fizessem o mesmo foram oferecidos benefícios fiscais. Em 2014 foi
atribuída uma taxa anual de $95,00 aplicável a todas as pessoas que não tivessem
seguro de saúde, agravada para $696 em 2016. Simultaneamente legislou-se
impedindo os abusos das seguradoras, nomeadamente de rejeição da
contratualização com pessoas com doenças crónicas, ou da cessação do respetivo
seguro em caso de contração de doença. Finalmente foi criado um portal público,
o Healthcare, que garante a qualquer
cidadão a contratualização de um plano de seguro nunca superior a 9,5 % do respetivo
rendimento mensal.
As críticas
apontadas ao Obamacare, nomeadamente
pelo partido Republicano, traduzem-se na discordância da obrigatoriedade de
contratualização universal de planos de seguro, na comparticipação das despesas
pelos cidadãos e nas restrições da cobertura impostas pelas companhias
seguradoras. Como consequência boa parte dos cidadãos acaba por não ativar os
seguros para evitar o agravamento dos correspondentes encargos, inviabilizando
o pretendido efeito de prevenção.
Ao assumir a
Presidência em 2017, D. Trump criou o
Trumpcare, acabando, em finais de
2017, com a multa por falta de plano de saúde, assim como com a obrigatoriedade
de aquisição de seguros por parte das empresas para os seus trabalhadores.
Contudo, manteve em vigor o Obamacare, incluindo
o Healthcare e o acesso aos planos de
saúde dos pais, de pessoas até 26 anos. Por esta ocasião estava ainda na agenda
a permissão às seguradoras da flexibilização das condições contratuais.
Há, nos Estados
Unidos, um consenso geral acerca da necessidade de melhorar o sistema de saúde,
extremamente dispendioso e ineficiente - com um encargo de cerca de $6000,00 per capita - mas um profundo desacordo
quanto à forma de o fazer, por razões eminentemente culturais, em que uma parte
da comunidade política, de matriz conservadora, defende o não envolvimento do
Estado nesta matéria.
Geopolítica
O temor inicial
segundo o qual o ar truculento e fanfarrão de D. Trump iria provocar uma guerra em larga escala, não se
concretizou. O recurso à guerra é um estratagema que alguns líderes mundiais
têm usado para atenuar a crítica interna, unindo os cidadãos em torno de uma
ameaça, supostamente comum. Tal sucedeu com alguns dos seus antecessores, desde
Obama aos Bush. Mas também na Europa, como é o caso, mais recente, do
envolvimento da França e Inglaterra na guerra da Síria, pelas mãos de Hollande e de David Cameron. A administração Trump
não só não envolveu os americanos em nenhum novo conflito militar como
acabou por retirar as suas tropas da Síria apesar da inegável importância
estratégica deste país na região. Aliada histórica da Rússia e do Irão,
plataforma de expansão do islamismo xiita e do controle de largas reservas de
petróleo, o regime totalitário de Bashar al-Assad
é um permanente foco desestabilizador na região, em especial no Líbano, um país outrora democrático e
próspero e hoje pouco mais que um país falhado. Na guerra do Afeganistão,
iniciada em 2001 por George W Bush,
em retaliação pelo atentado de 11 de Setembro, nem Obama nem Trump lograram
conseguir a retirada total das tropas americanas - Obama iniciou o processo de
redução de tropas desde 150 mil até 8,5 mil homens - apesar de tal constar nos
correspondentes programas eleitorais. Pelo contrário, D. Trump, ainda reforçou o contingente americano com mais 3 mil
soldados; contudo, em 2018, este, assinou um acordo de paz com os Talibans. A
guerra prossegue nos dias de hoje no Afeganistão, um país à beira da indigência
- 169º no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).
No caso da Coreia do
Norte, apesar do desdém com que têm sido consideradas as iniciativas políticas
de D. Trump pelos seus detratores, a
realidade é que este conseguiu sentar à mesa das negociações Kim Jong-un, primeiro com os EUA depois
com a Coreia do Sul. Algo que nenhum outro esteve sequer perto de conseguir e
que atenuou drasticamente a ameaça permanente da eminência de um conflito
nuclear em larga escala. Uma tremenda vitória da administração Trump. Esta, por outro lado, não hesitou
em manter-se fiel ao Governo de Israel, reconhecendo a sua nova Capital,
Jerusalém. Tal não obviou a improvável adesão ao seu Acordo de Paz para a
região, do Bahrein, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita. Algo cuja
relevância só de má-fé pode ser negada. Relativamente ao Irão, descrente da sua
boa-fé no acordo de desagregação do seu plano nuclear, denunciou-o frontalmente,
retirando-se do processo de acompanhamento. O futuro dirá da bondade desta
estratégia. Por mim, confio menos na da EU, que parece estar amedrontada, a ser
enganada e chantageada. D. Trump
demonstrou, neste caso, que não é cobarde, nem irresponsável, uma vez que não
tomou qualquer iniciativa militar além de dissuasora. Relativamente à UE, a
política da administração Trump pautou-se
pela crispação, com a exigência de maior envolvimento daquela nas despesas
militares da OTAN, mas também devido às diferenças de abordagem das questões
iraniana, da imigração e do Brexit.
Sendo a Europa e os EUA aliados militares naturais, a concorrência no plano
económico é fonte permanente duma certa hostilidade entre ambos, seja com D. Trump,
com Obama ou com Biden. A invasão
migratória que tem ocorrido na Europa e que ameaça desagrega-la foi espoletada
pela guerra da Síria, iniciada pela Administração Obama e alimentada pela
Rússia, esta interessada em retaliar pelo boicote económico imposto por Angela Merkel.
Peniche 8 de Dezembro de 2020
António Barreto
quinta-feira, 10 de dezembro de 2020
USA - Eleições 2020 (IV)
As políticas
D. Trump definiu-se como conservador, nacionalista, defensor da
família tradicional, dos valores cristãos, do liberalismo económico e do
mercantilismo.
Imperialismo
Anti-globalista
defende o mercantilismo, o comércio internacional com regulação. É interessante
verificar como muitos dos que censuram o imperialismo americano passaram a
acusar D. Trump de, com o seu
nacionalismo, deixar os seus aliados externos sem referências abrindo espaço
geoestratégico ao avanço de potências não democráticas; a russa e a chinesa. É
certo que a abertura económica é fonte de progresso e tem contribuído
decisivamente para a erradicação da pobreza no mundo. Mas também é verdade que
o desequilíbrio da razão de troca agrava a desigualdade entre países pobres e
ricos, perpetuando a dependência daqueles relativamente a estes. Desse mal
ainda padece Portugal por, no século XVIII ter feito um acordo de comércio com o
Reino Unido - o Tratado de Methuen assinado
em de 27 de Dezembro de 1703 também conhecido por tratado de panos e vinhos -,
mediante o qual Portugal prometeu comprar os tecidos ao Reino Unido (RU) - o
maior produtor mundial de tecidos da época – e, este, os vinhos a Portugal. David Ricardo, o lendário economista da
época, demonstrou então como ambas as
partes ganhavam com o negócio; simplesmente a razão de troca era desfavorável a
Portugal - de 1 para 3 -, enquanto a do RU era de 1 para 5! O resultado
traduziu-se no empobrecimento relativo de Portugal e no atraso da sua
industrialização, de que ainda hoje padecemos. Também não deve perder-se de vista
que alguns historiadores consideram a política económica nacionalista de Roosevelt uma das causas da 2ª GM, por
impossibilitar à Alemanha os recursos de que necessitava para pagar as
astronómicas indemnizações de guerra que lhe foram impostas no Tratado de Versaillhes em 28 de Junho de 1919. Tudo
ponderado, considerando ainda o agravamento da dívida externa - atualmente
cerca de 100 % do PIB - e do défice orçamental - atualmente, cerca de 5 % do
PIB - dos EUA em razão da crise de 2008 e da política de desagravamento fiscal de
D. Trump, não é destituído de senso que a sua administração procure
inclinar a balança externa a seu favor atuando nas pautas alfandegárias e
cambiais relativamente aos principais parceiros, em especial a China. Trata-se,
afinal e sobretudo, de travar a desindustrialização do país e consequente
desemprego que se tem verificado nas últimas décadas devido à deslocalização
empresarial. A sabedoria reside na capacidade de encontrar o equilíbrio de
interesses. A tudo isto acresce a perceção geral de que a globalização é um
veículo político e económico para a instauração dum governo mundial gizado e
controlado pela ONU graças à maioria socialista dos seus membros controlados
pela China. Um propósito cujos contornos ganham nitidez a partir das repetidas
e explícitas declarações do socialista António Guterres concordantes com a conhecida
aspiração imperialista da 2ª Internacional e do Império do Meio.
Aquecimento Global
Crítico do Acordo de
Paris, D. Trump deu prioridade à
energia de origem fóssil em detrimento da renovável, propondo-se atingir os
objetivos de redução de emissões de CO2 por outras vias. Sustenta-se
no parecer científico, historicamente comprovado, segundo o qual as alterações
climáticas são naturais e que o impacto do aumento da concentração de CO2
na temperatura ambiente, sendo marginal, é, sobretudo, consequência do aumento
de temperatura dos oceanos e não causa do mesmo. Este tema engloba quatro
questões; a energética, a económica, a política e a geoestratégica. Com a
implementação da tecnologia do fracionamento - desenvolvida nos EUA - na
prospeção e exploração do petróleo e gás - natural e de xisto -, os EUA, que
são os maiores consumidores mundiais de petróleo, passaram, também, a ser os maiores
produtores mundiais, com baixos custos de produção unitários. De importadores
de produtos petrolíferos passaram a exportadores dos mesmos. Esta alteração
retirou à OPEP o poder de controlo das economias ocidentais através do controlo
do principal fator de produção; a energia. Deve-se à evolução tecnológica dos
EUA - ocorrida sob a presidência de Obama
- os baixos preços do petróleo nos mercados internacionais - uma grande ajuda
para países energeticamente dependentes como Portugal. A vertente geoestratégica
está ainda bem patente relativamente à União Europeia (UE) uma vez que esta
aposta, determinadamente, nas energias renováveis, sujeitando-se à perda de
competitividade da sua economia devido ao agravamento dos custos unitários de
produção. Finalmente a questão política reside no facto de a causa ambiental,
propulsionada pela ONU, ter sido “apropriada” pelos partidos de matriz
socialista com o propósito de identificar, isolar e combater os regimes capitalistas.
Um dever de convocação planetária cuja solução só parece alcançável com o fim
do capitalismo! Como se as ideias maniqueístas não estivessem testadas pela
História.
Imigração
Contrário à política
de fronteiras abertas D. Trump proibiu
a imigração de países com histórico de envolvimento em atividades terroristas -
com exceções - e impôs o controlo rigoroso do fluxo migratório pelo sul, de
matriz eminentemente mexicana. Os EUA enfrentam o drama demográfico
característico dos países desenvolvidos tipificado na fase quatro da Teoria da
Transição Demográfica (TTD). Com uma população de cerca de 330 milhões de
habitantes - 12, 7 % das quais nascidas no estrangeiro, 11,3 % de origem
mexicana, 12,3 % de afro-americanos e uma taxa de reposição de 1,82 -, a sua estrutura
demográfica encontra-se num processo de envelhecimento e reconfiguração étnica.
O México, com cerca de 123 milhões de habitantes - o 3º mais populoso das
américas, com uma taxa de reposição de 2,1, encontrando-se na 3ª fase da TTD -
contribui, anualmente, com cerca de 1,2 milhões de emigrantes maioritariamente ilegais.
Nesta cadência, em menos de 20 anos a população de origem mexicana ascenderá a
cerca de 50 milhões, quase 15 % do total da população americana atual - e cerca
de 40 % da população mexicana atual total. Esta reconfiguração social conduzirá
ao inevitável agravamento conflitos sociais e políticos no país. Contudo, com a
taxa de reposição da população no limiar da neutralidade e em queda no México,
o fluxo migratório mexicano tenderá a diminuir. Note-se porém que os Estados
Unidos têm uma dívida de gratidão para com o México que, por ocasião das duas
guerras mundiais lhes forneceu a mão-de-obra de que a sua economia carecia. Por
outro lado vigora entre os dois países um acordo de livre comércio entre as
cidades fronteiriças. Finalmente, há, no México, uma comunidade de cerca de um
milhão de cidadãos americanos. Com Presidente conservador ou democrata, com
mais ou menos discrição, a política de emigração dos USA será tendencialmente
de contenção acompanhada de incentivos à natalidade. É no entanto provável que
os democratas apostem no incremento migratório como forma de alterar a seu
favor o impasse eleitoral que se tem verificado no país nos últimos anos. A
demonstrá-lo está o diferendo entre democratas e republicanos em vésperas do
ato eleitoral, em que estes defenderam a exclusão dos imigrantes ilegais dos
cadernos eleitorais e aqueles o contrário. Por outro lado D. Trump defende a prioridade de acesso à carta verde aos
imigrantes mais qualificados em vez do modelo em vigor que privilegia a reunião
familiar. Está em causa não só o impacto económico do contributo imigratório mas,
sobretudo, o impacto político. Por outro lado, também a administração Obama repatriou de imigrantes ilegais,
incluindo dezenas de milhar de crianças - para cujo efeito a sua administração chegou
a pedir aprovação de financiamento ao Congresso - e se desenvolveram políticas
de combate aos traficantes envolvidos no fenómeno da imigração.
Peniche, 8 de Dezembro de 2020
António Barreto
terça-feira, 8 de dezembro de 2020
USA - Eleições 2020 (III)
As castas
A supressão dos
privilégios da aristocracia e do clero, característicos das monarquias, pelos
regimes republicanos - fundados na tripla utopia, liberdade, igualdade e
fraternidade -, não obstou à emergência de novas castas e correspondente
cortejo de privilégios. Castas relacionadas com a esfera partidária, judicial,
militar, económica e do alto funcionalismo público. A desigualdade começa aqui,
desacredita a República e a democracia, perpetua-se e tende a agravar-se com as
sucessivas gerações. A casta partidária, geralmente instalada na administração
pública e com acesso às instâncias de poder, atribui-se a exclusividade da
representatividade política. A ascensão política extemporânea de D. Trump, um outsider pragmático, financeiramente independente, oriundo da
sociedade civil, vinculado à defesa dos interesses da América profunda, contra
os poderes instalados, fez soar o alarme, não só entre o partido oponente como
no interior do seu próprio partido. A sua lógica fora do filtro partidário
suscitou compulsivas reações hostis radicadas no medo da perda de privilégios e
de poder. A sua figura grotesca, o ar desajeitado, o discurso meio
desarticulado e um passado social e económico polémico, forneceram pasto
abundante à maledicência dos adversários. Ao bom estilo socrático, a uma figura
caricatural, diabólica, está vedada a produção de boas ideias. Como tal nem
vale a pena discuti-las. Apenas afastar a criatura para bem longe, catalogando
os seus apoiantes com a habitual parafernália de epítetos vexatórios;
estúpidos, incultos, ignorantes, atrasados, etc..
O Declínio dos
Candidatos
Um breve olhar pelos Presidentes dos EUA dos
últimos 50 anos permite constatar um declínio dos respetivos perfis. Neste ato
eleitoral chegam ser patéticas as mútuas acusações de incompetência dos
candidatos, inclusive entre membros dos respetivos partidos. Se D. Trump é considerado rude e boçal, J. Biden é apelidado de senil,
taralhouco. Nenhum destes classificativos seria aplicável a Ronald Reagan, Bill Clinton, George H. W.
Bush ou Obama. Parece haver um estranho mecanismo na democracia americana,
a confirmar a velha máxima de Adam Smith,
segundo o qual a má moeda afasta a boa moeda. Mais uma vez trata-se de uma
característica de quase todas as democracias, visível em Portugal, Espanha,
França, Reino Unido e Itália onde se tem assistido a fenómenos idênticos, seja
emergindo do seio dos partidos de poder, seja na sequência da emergência de
novos partidos. Talvez o jogo democrático tenha resvalado para uma espécie de
aviltamento que afasta as verdadeiras elites da causa pública. E isso constitui
uma ameaça às democracias.
Forma e conteúdo
Diz o bom povo; “As
aparências iludem” e “quem vê caras não vê corações”, aforismos que permanecem
atuais em qualquer vertente da atividade humana e em particular na política,
essa arte simultaneamente nobre e aviltante da persuasão. A forma precede o
conteúdo. Vê-se por todo o lado e em todo o lado. Viu-se exuberantemente, exageradamente,
despudoradamente, com D. Trump, nos
Estados Unidos, mas também em Portugal. A sua figura meio grotesca, meio
patética, a sua retórica rudimentar, direta, proporcionaram vasto campo de
enxovalhamento pessoal. Nenhuma boa ideia poderia sair de figura tão
repugnante. Um conceito puramente nazi. Choveram acusações de todo o género; de
corrupção, de traição ao país, de racismo, de xenofobia, de homofobia, de
machismo, de violação, etc. etc. Pelo Frankenistein
que ocupava a Casa Branca todas as monstruosidade eram praticáveis e prováveis.
Raramente se encontrava uma análise crítica exaustiva ao seu programa de
governo nos meios de comunicação social. Especialmente em Portugal. A tática é
simples e recorrente; desacreditando-se a pessoa desacreditam-se as suas
propostas evitando-se o confronto de ideias cujo resultado pode ser o contrário
ao pretendido.
Peniche, 8 de Dezembro de 2020
António Barreto
domingo, 6 de dezembro de 2020
USA - Eleições 2020 (II)
O quarto poder
Há um consenso acerca
da influência da Comunicação Social nas democracias a ponto de ser considerada
como o 4º Poder. Um poder informal mas real e fácil de compreender. Em
democracia - um homem um voto - o espaço público é o local privilegiado de
debate e formação da opinião pública, das convicções do eleitor, daí a
importância de comunicação social. Importância crescente devido à proliferação
de plataformas e órgãos de informação, aumento da frequência de emissões e
publicações e alargamento do nível de escolaridade das populações. E é por isso
que muitos a consideram, não o quarto, mas o primeiro poder! Nunca tal foi tão
evidente para mim como nestas eleições; a declaração de vitória de Joe Biden
pela CNN, primeira entidade a fazê-lo, com as urnas ainda em alvoroço e a
comoção do anunciante, denunciam a guerra que a Comunicação Social,
maioritariamente democrata, travou contra o Presidente Republicano durante todo
o mandato. Não o posso afirmar, ninguém poderá fazê-lo, mas pergunto-me se não
terá sido a Comunicação Social americana a decidir estas eleições. E se foi
desvirtuou um regime onde cabe aos eleitores o primado da soberania política. Uma
democracia desvirtuada não é democracia.
A tribalização política
A degradação do
diálogo político interpartidário, fonte da criação de uma sociedade mais justa
e próspera esteve francamente exposta durante todo o mandato de D. Trump. Os partidos entrincheiraram-se
nas suas posições e passaram a considerá-las abomináveis quando adotadas pelo
oponente. Ignóbeis e absurdos ataques pessoais perpetraram-se continuadamente,
dum e doutro lado da barricada, deixando de fora os grandes temas da nação. A insana
e irracional luta pelo poder sobrepôs-se a todas as regras de boa conduta
democrática, dominando tudo e todos. Um fenómeno que não é exclusivo dos EUA
mas característico da maioria das democracias, comprometendo-as. Ou evoluem ou
morrerão. O monopólio partidário da representação política está em causa.
O Poder da Rua
O ativismo inundou a rua em toda a legislatura, com inúmeras
e violentas manifestações de minorias reivindicando direitos, amplificando e
extrapolando qualquer acontecimento negativo transformando-o em tragédia sociai
coletiva. Exigiu-se a destituição de órgãos legítimos vigentes. Imputou-se-lhes
a responsabilidade de todas as iniquidades sociais e económicas. Reivindicou-se
a legitimidade da ação direta. Criou-se um estado de pré-guerra civil
condicionando e bloqueando a governação sufragada democraticamente. Tudo
ocorreu num contexto de progresso económico notável, de pleno emprego e de
integração das minorias. O poder da rua, pré-revolucionário, atribui-se
legitimidade própria pretendendo sobrepor-se à legitimidade do poder
democrático. A entropia política e social foi uma constante, internacionalizou-se
e pôs em causa a legitimidade dos centros de poder. A anarquia social estabeleceu-se,
alimentada pelo partido derrotado anteriormente e, suspeita-se, por entidades
externas empenhadas na permanente luta pelo domínio geoestratégico. O direito
de manifestação, em muitos casos, extravasou as prorrogativas legalmente
consagradas. Um fenómeno que se verifica nas democracias e que dá lugar ao
paradoxo da subjugação das maiorias pelas minorias graças à grande intensidade
do ativismo destas.
Peniche, 6 de Dezembro de 2020
António Barreto