Com uma derrota na Taça
de Portugal terminou da pior forma, para o Benfica, a época 2020-2021. Uma
vitória atenuaria os efeitos duma época desastrada projetando alguma esperança no
futuro imediato da equipa. Os adeptos viam nesta final a possibilidade de consolidação
da melhoria da qualidade de jogo da equipa, um primeiro passo na preparação da
próxima época, ao nível da constituição do plantel e no restabelecimento da
confiança do universo encarnado.
O primeiro sinal adverso surgiu com a lesão, na última jornada da Liga,
do central Lucas Veríssimo. De facto, o brasileiro trouxe à equipa a
estabilidade defensiva perdida com a saída de Ruben Dias. Por outro lado, a
semana que antecedeu a final foi marcada pela audição do Presidente do Benfica,
a título pessoal, em sede de Comissão de Inquérito da Assembleia da República aos
grandes devedores do Novo Banco. Uma coincidência que agravou o ambiente
negativo junto dos adeptos encarnados e, creio, junto de toda a correspondente estrutura.
Pelo contrário, as hostes adversárias exibiam confiança; Presidente, Treinador,
jogadores e adeptos, publicamente, mostravam determinação inabalável na vitória.
E, se é certo que tal faz parte dos habituais jogos mentais que visam
desmoralizar o adversário, a verdade é que tal otimismo radicava no inegável
valor da equipa, já demonstrado ao longo da época.
Com um posicionamento e articulação irrepreensíveis, elevada intensidade
e agressividade em todas as zonas do terreno, o Braga dificultou o processo de
construção e desenvolvimento das jogadas ofensivas ao Benfica, subindo no
terreno em rápidas transições, sempre com vários atacantes na zona de
finalização. E foi num desses lances que
ocorreu a decisão polémica que viria a ser decisiva no desfecho do jogo. Talvez
consequência da quebra de entrosamento defensivo provocado pela ausência de
Lucas Veríssimo, o guarda-redes Helton
tem uma saída extemporânea que provocou a sua expulsão em consequência da falta
que cometeu sobre o avançado contrário à saída da sua área. Uma decisão
drástica do árbitro que deixou indignadas as hostes encarnadas, por não ter
recorrido ao VAR e por um histórico de decisões polémicas que protagonizou na
Liga com custos na pontuação da equipa da Luz.
Ao cair do pano da primeira parte, em mais um
duplo erro defensivo da equipa do Benfica, o Braga adianta-se no marcador com
um magnífico chapéu longo. Um banho de água fria no pior momento, para a equipa
de Jorge Jesus, quando se esperava o intervalo para refrescamento das ideias
táticas. Mais uma vez se verificou descoordenação defensiva, com Vertonghen a fazer um corte oportuno mas
infeliz - para a zona frontal -, e Odisseias
a sair sem possibilidade de disputar o lance.
As alterações introduzidas na segunda parte pelo Benfica não mudaram o
padrão de jogo. O meio-campo pertencia ao Braga que não permitia veleidades ao
adversário, não hesitando os seus jogadores em recorrer à falta e ao antijogo
sempre que necessário. Em inferioridade numérica, frente a uma equipa bem
articulada e a uma arbitragem permissiva, os jogadores do Benfica, chegando
quase sempre tarde aos lances, raramente construíram oportunidades de golo,
apesar de o tentarem afincadamente. O tento da confirmação chegou com
naturalidade já na ponta final, quando a equipa de Jorge Jesus arriscava tudo,
arrumando as contas da Taça.
A vitória assenta bem à equipa de Marcelo Rebelo de Sousa, premiando a
sua qualidade de jogo e determinação, apesar de se ter batido contra um
adversário em inferioridade numérica a maior parte do tempo.
Quanto ao Benfica, apesar da arbitragem adversa, revelou as debilidades
conhecidas, nomeadamente, falta de coordenação defensiva, falta de criatividade
e consistência no meio-campo, falta de intensidade nas alas, instabilidade na
finalização e défice de confiança.
Se é verdade que a estabilidade
diretiva é necessária ao progresso dum clube, também é verdade que de nada
serve quando tal não se traduz em estabilidade desportiva. É o caso do Benfica
que, nos últimos anos, tem desbaratado recursos sem retorno desportivo. A
conturbada vida profissional do seu Presidente acaba por ter reflexos negativos
na gestão do clube e no ambiente geral que o rodeia, seja entre adeptos, seja
na sociedade civil, municiando os adversários com argumentos pejorativos.
Marina - 1933 - Armando Barrios
Peniche, 29 de Maio de 2021
António Barreto
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