A aura de sucesso que acompanhava Jorge Jesus no seu regresso ao Benfica
criou um clima de otimismo entre os adeptos para a nova época. Trunfo eleitoral
de Filipe Vieira, o novo Treinador, apesar de alguns anticorpos internos - há,
entre benfiquistas, quem não lhe perdoe a forma como saiu do clube - prometia
uma equipa competitiva, a jogar o triplo, à qual todos os sonhos eram
permitidos. Assim o entenderam a generalidade dos benfiquistas. Assim o temeram
os adversários.
O primeiro desaire ocorreu com a não qualificação para a Liga dos Campeões.
O afastamento pelo modesto PAOK, com o contributo do ex-benfiquista Zivkovic, recém-chegado à equipa grega, afetou
a moral dos jogadores e adeptos, provocando um rombo de monta na tesouraria do
clube, que felizmente, ostentava, à época, uma robustez única entre clubes
portugueses.
Apesar disso a temporada teve um início prometedor, logo ameaçado no
final de Setembro com a saída de Ruben Dias para o Manchester City. Uma oferta irrecusável privou o Benfica da “pedra
de toque” da equipa. De facto, o jovem central, formado nas escolas do clube, cedo
se distinguiu pela determinação e liderança que punha em campo, sendo visto
pelos adeptos como o primeiro pilar da futura equipa de jogadores da casa. Com
a sua saída desmoronava-se mais um projeto que, afinal, só existia no
imaginário dos crédulos benfiquistas.
A remodelação da linha defensiva ocorreu em plena competição, com Grimaldo
e André Almeida lesionados e Ventonghen,
Otamendi e Jardel sem ritmo competitivo. Por outro lado, Nuno Tavares revelava
falhas táticas frequentes e o recém-chegado Gilberto dava os primeiros passos
na adaptação à equipa. A estabilização do setor ocorreu, tardiamente, com a
chegada de Lucas Veríssimo, um central sereno, taticamente evoluído e
concentrado, com o regresso de Grimaldo e com a adaptação de Diogo Gonçalves a
defesa-direito. Trabalho árduo que deveria ter ocorrida na pré-época.
Apesar de tudo, com alguns erros defensivos infantis pelo caminho, a equipa
teve um início de campeonato auspicioso, chegando a isolar-se, folgadamente, na
liderança. Darwin revelava-se um
avançado demolidor. Contudo, o jogo no Bessa, a 2 de Novembro, viria a revelar
as fragilidades da equipa que nem uma arbitragem hostil disfarçou. Fragilidades
transitadas da época anterior, que se traduziam, basicamente, em falta de
criatividade e solidez no meio-campo, falta de intensidade, profundidade e
criatividade nas alas, e instabilidade no capítulo da finalização.
Apesar do desaire aguardava-se uma melhoria competitiva contínua resultante,
sobretudo, da esperada evolução da consistência tática e da subida de forma dos
reforços brasileiros. O empate no Dragão, revelando grande atitude geral, permitiu
manter a diferença pontual para o clube do Porto, injetando nova confiança nas
hostes encarnadas. A equipa parecia ter entrado numa fase de maior intensidade
competitiva; parecia pronta para “voar”.
E voou, mas baixinho! Desgraçadamente, de forma algo surpreendente, um
surto infecioso abateu-se sobre as hostes vermelhas. Soube-se mais tarde que,
entre jogadores e técnicos, cerca de cinquenta elementos foram infetados com o
coronavírus SARS COV 2! Neste período jogou-se com atletas titulares
fragilizados, outros menos rodados, alguns da equipa B, e sem treinos. Uma
equipa errática, sem força, previsível, a perder pontos sucessivamente, sem
complacência dos adversários, nem dos árbitros. Enquanto aqueles se negavam a
aceitar os pedidos de adiamento, caso do “ingrato” Nacional, estes negavam-se a
assinalar as faltas passíveis de grande penalidade favoráveis ao clube da Luz. Mais
uma vez começaram a desenhar-se as habituais teorias da conspiração entre os adeptos
do clube; onde teria ocorrido a contaminação? Teria alguma relação com o jogo
no Dragão? Porque não eram assinalados os penaltis favoráveis ao clube? Seriam “ordens”
da tutela desportiva? Haveria um entendimento para afastar o Benfica do título?
E teria isso algo a ver com o estado financeiro caótico dos principais rivais?
Haveria condicionantes de natureza política? Uma espiral de dúvidas com raiz na
frustração pelos maus resultados e no ambiente geral francamente hostil ao
clube no espaço público, pacientemente cultivado ao longo das últimas décadas
pelos rivais e outros agentes.
(Cont.)
Armando Barrios - 1990
Peniche, 30 de Maio de 2021
António Barreto
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