As mulheres na
República Romana
“O traço mais grave e mais geral da vida elegante dos romanos do fim da república
é a liberdade das mulheres, que são como os homens; Têm as mesmas ocupações, os
mesmos negócios. Casam-se e descasam-se com frequência. Passam de mão em mão:
Lúculo casou com Clódia; depois com Servília, irmã de Catão, mãe de Bruto,
amente querida de César; com Servília de quem se dizia faltar-lhe só um dos
vícios de Clódia – o ter sido amante dos irmãos. O próprio Catão divorcia-se a
pedido de um amigo, e quando o amigo morre volta a casar com a mulher de quem
se separara. O celibato ia-se tornando regra e o malthusianismo no matrimónio
era, como é hoje, a lei de toda a gente rica. Emancipadas, as mulheres
intrigam, conspiram; nos seus salões dão o tom à política e fazem dos seus
amantes instrumentos. César tê-las ia como sócias – César que se deitou em
todos os leitos de Roma. Terência governa Ciro, Fúlvia Marco António. No Verão,
as praias eram a época privilegiada do reinado feminino: em Abril suspendiam-se
as sessões do Senado e começavam os passeios, as pescas, os piqueniques, onde
as intrigas de amor se entrelaçavam com as políticas, e as leoas romanas
traziam pelo beiço os janotas efeminados em cujas mãos estavam os destinos da
república. Livres, as mulheres mostravam uma cobiça ainda superior à dos
homens, porque a mulher, mais fina, mais artista, era requintada em tudo. Era
célebre Afrânia, esposa do senador Licínio Búcio, pela sua paixão pelas demandas:
ela em pessoa ia advogar as causas perante o pretor, atroando o Foro com a sua
eloquência histérica. Tinha passado em moda dizer que uma mulher atrevida era
uma afrânia.
Também só os casos excessivos eram capazes de impressionar o romano blasé. As dançarinas, as atrizes, as
cantoras, as citarinas e toda a espécie de cortesãs mais ou menos artistas
tinham-se tornado o enlevo das senhoras da boa sociedade, que lhes copiavam as
modas imitando-lhes os costumes. Précia foi uma espécie de Sara Bernhardt: foi
amante de Betego e em seu nome governou a república. Os escândalos repetiam-se
diariamente e constituíam o melhor das conversas. Só um caso excepcional, como
foi o de Clódio em casa de César, já pontífice, era capaz de dar brado.”
Agripina Maior 14 a.C
História da República Romana
Oliveira Martins
Peniche, 03 de Setembro de 2022
António
Barreto
Sem comentários:
Enviar um comentário