A Democracia e o
Benfica
Acabo de ouvir, na
BTV, o Treinador de futebol da equipa B do Benfica, comentando o jogo com o
Estrela da Amadora - em que o Benfica perdeu por 1-2 -, e a respetiva
arbitragem. O resumo do jogo comprova a fundamentação das suas críticas.
Descreveu ainda os casos dos últimos jogos em que a equipa
participou onde erros grosseiros e capitais prejudicaram a equipa.
Logo depois ouvi
Carlos Louzeiro, o entrevistado do programa, dizer que há razão de queixa para
o clube no jogo de futsal de juniores realizado ontem com o Sporting.
Tudo isto depois do
desastrado desempenho da equipa de arbitragem do jogo da Taça, com o Braga, de
que resultou a eliminação do Benfica e contra o qual que se insurgiu Rui Costa,
ainda no estádio.
Por coincidência, a equipa é a mesma que assinalou um penalti,
altamente polémico, no jogo em casa, para o campeonato, com o Sporting, de que
resultou um empate e que o Benfica poderia ter ganho.
Os casos de erros
prejudiciais às equipas do Benfica têm sido recorrentes em todas as modalidades,
verificam-se há décadas, e não se vislumbra que acabem tão cedo.
Ninguém, fora do universo do Benfica, estranha ou se indigna.
Aceita-se como consequência natural da natureza humana e consideram-se os
protestos falta de desportivismo dos dirigentes e adeptos do clube.
De tal modo que, perante a passividade das instituições
tutelares das diversas modalidades, para o adepto comum do clube encarnado, prevalece
a ideia de conluio entre todos, no sentido de criar obstáculos espúrios ao desempenho
desportivo das suas equipas.
Porém, o problema é
bem mais vasto e grave, alastrando à sociedade em geral. Ante a adesão maciça
dos adeptos benfiquistas aos jogos do seu clube, as autoridades públicas cruzam
os braços perante as múltiplas restrições que lhes são impostas por vários
clubes adversários!
São os elevadíssimos preços dos bilhetes praticados, são as
proibições do uso de adereços alusivos ao clube, são expulsões de adeptos das
bancadas com o jogo a decorrer, por alegado ruído excessivo e, mais
recentemente, assistimos à estúpida restrição de acesso aos estádios, selando
setores importantes das bancadas!
Mas não é tudo; há cidades onde qualquer adepto que assuma o
seu benfiquismo corre sérios riscos de segregação social e até de agressões
físicas. Há até casos de homicídio, consequência de ofensas corporais!
Isto dura há décadas
e, habitualmente, atribui-se esta anormalidade há imaturidade do regime democrático.
Cheguei a pensar o mesmo, mas não hoje. Já o referi em vários textos; o regime
tem um problema com o Benfica; é política a causa primordial desta perseguição.
O regime jamais consentirá um Benfica forte como no passado, já remoto.
Esse problema reside
na, ainda”, fobia de certos partidos ao salazarismo, que, por sua vez, radica
na má consciência que têm da trajetória económica e social do país. Quase
cinquenta anos depois do vinte e cinco de abril, constatamos o empobrecimento
relativo de Portugal, o endividamento absoluto crescente - o défice comercial
atual é idêntico a da primeira década do século XX - cerca de 20 mil milhões de
euros por ano -, a dependência das transferências comunitárias e da imigração, alternativa
à baixa taxa de reposição populacional e à emigração.
Uma parte considerável
dos portugueses, não quer ter filhos nem viver em Portugal. Perdida a independência
nacional, é a continuidade da nação portuguesa, do povo português, que está
ameaçada. Mas não para os que querem mudar a matriz cultural da população.
O Benfica é vítima da hostilidade
silenciosa, implícita, de certos partidos progressistas, que o consideram um
símbolo do salazarismo. Não lhe perdoam ter suscitado a admiração geral no
mundo do futebol, pela excelência do seu futebol, com equipas de multirraciais e
pluricontinentais. Para eles tratou-se de propaganda do regime de então, de que
o clube teria sido cúmplice.
As reformas dos
códigos Civil e Penal, que anularam as provas contra Pinto da Costa no caso do
Apito Dourado conduzindo à sua absolvição, a impunidade dos membros dos superdragões
alegadamente envolvidos em desacatos, a rejeição da Providência Cautelar dum
Tribunal do Porto, no caso dos emails,
de que resultou o enxovalho público do clube e severos danos reputacionais e patrimoniais,
a incapacidade de responsabilizar civilmente e criminalmente os mentores deste
mesmo caso, apesar das suspeitas gerais, por falta de provas ou por desinteresse
nelas, etc., etc..
Tudo isto me ocorre
no imediato, sem esquecer da prisão de dois ex-presidentes do clube, um deles,
na prática, condenado ao exílio, sob pena de passar o resto dos seus dias na
cadeia caso regresse ao país. O outro, enxovalhado na Comissão de Inquérito Parlamentar
ao Novo Banco, como se tivesse sido ele, e não o Governo, o culpado da injeção
dos quase quatro mil milhões de euros no respetivo Fundo de Resolução. É demais
para ser coincidência!
Devo dizer porém,
que por absurdo que possa parecer, antevi problemas para o Benfica quando o
Partido Socialista formou governo em 2015. E não é por ter dotes premonitórios,
mas por muito ter visto e lido.
A centralização dos direitos desportivos e das
receitas de bilheteira de que se fala atualmente, e que sucederá se o Partido
Socialista continuar a governar o país, não passa de mais uma manobra para
socializar as receitas do clube e de o enfraquecer desportivamente. Os atuais
dirigentes dos órgãos desportivos tutelares, não são confiáveis para tal
tarefa.
Por tudo isto, e
mais a temática da regionalização, que ficará para abordar em outra ocasião, defendo
que o Benfica só terá sossego quando a sua dimensão social tiver tradução
política.
É necessário que o
clube elabore um plano sustentado, estruturado e fundamentado de abordagem sistemática
do espaço público onde todos estes temas sejam apresentados e debatidos, bem
como responsabilizar criminalmente e civilmente todos os que infringirem a lei
em prejuízo do clube, sejam eles quem forem.
Está demonstrado que a política de contenção e cordialidade
praticadas por Rui Costa e pelo seu antecessor, não funciona. Infelizmente. Por
medo ou cumplicidade a Comunicação Social não denuncia estas situações, os órgãos
tutelares desportivos punem o clube e
seus dirigentes quando protesta, o Governo faz vista grossa e os partidos não
querem “sujar” as mãos, exceto para partilhar os louros dos sucessos que,
apesar de tudo, por mérito ou vergonha, por vezes ocorrem.
A omissão das
entidades públicas, desportivas, governamentais e judiciais, nesta área, lesa a
qualidade da democracia, por subtrair direitos e liberdades das pessoas e ser potenciadora
de violência, de nada servindo, depois do facto consumado, alardear indignação,
castigando a vítima, que é o que tem sucedido.
Peniche, 12 de Fevereiro de 2023
António Barreto
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