sábado, 26 de dezembro de 2020
domingo, 13 de dezembro de 2020
USA - Eleições 2020 (V)
Economia
A análise económica
do mandato da administração Trump
deve dividir-se em dois períodos, o pré-covid - de 2016 até março de 2020 - e o
pós-covid - ainda em curso.
A derrocada económica, vaticinada pelos detratores de D. Trump, resultante da sua ascensão à
presidência dos EUA, não só não se verificou, como manteve ou superou os indicadores
do mandato anterior, no primeiro período. No segundo período verificou-se o
maior colapso económico dos últimos 80 anos, nos EUA.
Vejamos o que nos diz a análise da BBC Brasil realizado em 27
de Setembro de 2020, a partir dos relatórios do Escritório de Análise Económica
dos EUA:
O crescimento
económico médio anual dos primeiros três anos do mandato de D. Trump
foi de 2,5 % contra 2,3 % dos últimos três anos do mandato anterior, sendo que,
neste, em meados de 2014 se verificou um crescimento de 5,5 %. Em abril, maio e
Junho verificou-se uma contração superior a 30 %; três vezes superior à que se
verificou em 1958! Se tal ocorreu apesar da recusa de D. Trump em adotar o confinamento geral, não custa supor que teria
sido bem pior se tivesse feito o contrário. Contudo, a recuperação económica
tem ocorrido com grande rapidez, estimando-se, no final do ano, uma retração do
PIB próxima dos 3 %! Cerca de 1/3 da que se verifica, em média, na Europa, para
o ano em curso. Certo também é que, nos últimos 50 anos, houve períodos de
maior crescimento do que o que ocorreu na fase pré-covid.
Quanto aos mercados
financeiros, nomeadamente S&P 500, apesar da queda abruta do início de
2020, apresenta uma valorização de cerca de 14 % neste ano até à data e um
total de 83 % desde 2016. Já o desempenho do Nasdaq é bem superior, cum uma valorização em 2020 e atá à data de
cerca de 30 % e de 171 % desde 2016! Um desempenho sem paralelo na Europa, com
todas as bolsas negativas em 2020, enquanto a oriente os índices são os índices
chineses que mais se aproximam: Nikkei (13,1 % ytd), CSI 300 (24,1 % ytd),
Kospi (24,2 % ytd), Sensex (9,3 % ytd), e BIST 30 (5,3 % ytd). Tal desempenho
revela que os mercados confiam nas ideias de D. Trump.
Relativamente à taxa
de desemprego, de 3, 5 % antes da pandemia, era a mais baixa dos últimos 50
anos. Mas é verdade que nos últimos três anos de mandato de Obama foram criados
7 milhões de postos de trabalhos enquanto nos primeiros 3 anos do mandato de
Obama foram criados “apenas” 6,4 milhões. Com a pandemia a taxa de desemprego
disparou para 14,7 % em abril - a mais alta desde a Grande Depressão de 1930 -
tendo sido destruídos, num só mês, cerca de 20 milhões de postos de trabalho,
anulando uma década de criação de emprego. Em agosto porém, a taxa de
desemprego já estava em 8,4 %, confirmando a rapidez da recuperação económica.
Os salários médios
por hora no mandato de D. Trump mantiveram
a tendência de subida iniciada no primeiro mandato de Obama, com uma média
anual de 2,1 % naquele e de 2,4 % deste. O efeito da pandemia provocou um
aumento abruto dos salários devido ao desemprego dos trabalhadores de baixas
qualificações, voltando a baixar logo que se iniciou a recuperação económica,
com o regresso daqueles ao trabalho.
Apesar de ter sido
em 1966 sob o mandato de Lyndon B.
Johnson que se verificou a maior redução de pobres num só ano - 4,7 milhões
de pessoas -, contra 4,2 milhões em 2019, é verdade que foi no mandato de D. Trump que se atingiu o mais baixo índice
de pobreza dos últimos 50 anos, 10,5 %, desconhecendo-se ainda a evolução
resultante da crise pandémica. Sucede porém que se verifica grande assimetria
étnica no que diz respeito à população pobre, com cerca de 18,8 % para
americanos negros e de 7,3 % para americanos brancos não latinos.
Conclusão
Donald Trump é um outsider, um corpo estranho na cena política, rejeitado até por
alguns setores do seu próprio partido. Oriundo do mundo empresarial representa
uma reação inorgânica da sociedade civil contra o status quo partidário vigente. É visto como uma ameaça pelo espetro
político estabelecido, sobretudo pelo setor progressista, este divorciado do
país profundo. Apesar do seu estilo algo patético, por vezes grotesco, com uma
linguagem imprudente, direta às vezes incendiária, D. Trump tem uma ideia para o país assente nos valores
tradicionais, na família, na moral cristã, na segurança, no trabalho e na
Pátria. Relativiza a vertente imperialista dos EUA iniciada em 1945, privilegia
o comércio internacional baseado no equilíbrio das trocas, defende maior
cooperação ativa dos aliados militares naturais, abomina as dinâmicas políticas
e económicas prevalecentes assentes na teoria do Aquecimento Global, empenha-se
na causa ambiental privilegiando o gás natural e de xisto, denuncia e combate
frontalmente os promotores do terrorismo global. A apoiá-lo tem uma vasta população
que já não se sente representada pelos partidos tradicionais. As notícias de
fraude eleitoral no processo ainda em curso, a confirmarem-se, significarão, o
início do último estertor das democracias representativas multipartidárias e o
advento de novas ditaduras ou de regimes democráticos de representação direta
alcançáveis a partir dos meios proporcionados pelas novas tecnologias tal como
revelam alguns estudos do MIT (Massachusetts,
Institute Technology).
Fim.
Peniche, 8 de Dezembro
de 2020
António Barreto
sábado, 12 de dezembro de 2020
USA - Eleições 2020 (V)
Sistema de saúde
Crítico da política
de saúde do seu antecessor, D. Trump introduziu-lhe,
gradualmente, algumas alterações. Nem Obama
tinha instituído um sistema de saúde público e universal, nem D. Trump reverteu todas as alterações
introduzidas no seu mandato. O sistema de saúde americano, ineficiente,
dispendioso e insuficiente, é complexo; não há um sistema público universal, nunca
houve, apesar de algumas tentativas, nomeadamente no mandato de Roosevelt - de
1933 a 1945 -, inviabilizadas pelos partidos democrata e republicano. O sistema
de saúde americano é eminentemente privado, consistindo na contratualização
particular de planos de saúde. Contudo tem uma dimensão pública através dos
programas designados por Medicare e Medicaid. O plano Medicare, criado em 1966 e financiado pelo governo federal, destina-se
a cidadãos com mais de 65 anos, que tenham descontado para o sistema de
previdência durante a sua vida ativa, e pessoas incapacitadas para o trabalho,
com serviços diferenciados em função do perfil de cada cidadão. O plano Medicaid destina-se a pessoas de qualquer
idade em condição de carência de recursos sendo financiado pelo Governo Federal
e pelos Estados, que pagam diretamente aos prestadores dos serviços os atos
médicos correspondentes. Neste sistema, os Estados têm plena autonomia para
definir modelos próprios, havendo, por todo o território, clínicas e hospitais
públicos e privados. A contratação de seguros de saúde privados é efetuada
maioritariamente no âmbito empresarial, já que, grande parte dos cidadãos não
têm recursos disponíveis para o fazer. Em 2007, 46 milhões de pessoas não
tinham seguros de saúde; graças ao plano Obamacare
esse número foi reduzindo gradualmente até atingir os 28 milhões em 2016. O
drama são os elevados custos envolvidos que podem levar à ruina de quem não
tenha contratos de seguro nem seja abrangido por um dos sistemas públicos já
referidos - o tratamento de uma perna partida pode atingir os $7500,00,
enquanto a diária num hospital é de $10000,00 aproximadamente.
Tendo, em 2009, ascendido
a $676 bilhões os encargos públicos com os planos Medicare e Medicaid, previa-se
a duplicação dos mesmos no ano 2000. O plano Patient Protection and Affordable Care Act (PPACA ou, em português,
“Lei de Proteção e Cuidados Acessível ao Paciente”), conhecido popularmente
como Obamacare, instituído
em março de 2010, tinha por objetivo primordial reduzir os custos públicos com
a saúde, impondo a todos os americanos a
obrigatoriedade de contratualização de planos de seguro privados.
Alargou-se o plano Medicaid a
mais 15 milhões de cidadãos subsidiando os correspondentes encargos a todas as
pessoas com rendimentos anuais até 4 vezes o salário de pobreza aplicável. Aos
jovens até aos 26 anos foi garantido acesso aos planos de saúde dos respetivos
pais. Todas as empresas com mais de 50 trabalhadores foram obrigadas a
contratualizar seguros de saúde para os respetivos trabalhadores. A todas as
outras que fizessem o mesmo foram oferecidos benefícios fiscais. Em 2014 foi
atribuída uma taxa anual de $95,00 aplicável a todas as pessoas que não tivessem
seguro de saúde, agravada para $696 em 2016. Simultaneamente legislou-se
impedindo os abusos das seguradoras, nomeadamente de rejeição da
contratualização com pessoas com doenças crónicas, ou da cessação do respetivo
seguro em caso de contração de doença. Finalmente foi criado um portal público,
o Healthcare, que garante a qualquer
cidadão a contratualização de um plano de seguro nunca superior a 9,5 % do respetivo
rendimento mensal.
As críticas
apontadas ao Obamacare, nomeadamente
pelo partido Republicano, traduzem-se na discordância da obrigatoriedade de
contratualização universal de planos de seguro, na comparticipação das despesas
pelos cidadãos e nas restrições da cobertura impostas pelas companhias
seguradoras. Como consequência boa parte dos cidadãos acaba por não ativar os
seguros para evitar o agravamento dos correspondentes encargos, inviabilizando
o pretendido efeito de prevenção.
Ao assumir a
Presidência em 2017, D. Trump criou o
Trumpcare, acabando, em finais de
2017, com a multa por falta de plano de saúde, assim como com a obrigatoriedade
de aquisição de seguros por parte das empresas para os seus trabalhadores.
Contudo, manteve em vigor o Obamacare, incluindo
o Healthcare e o acesso aos planos de
saúde dos pais, de pessoas até 26 anos. Por esta ocasião estava ainda na agenda
a permissão às seguradoras da flexibilização das condições contratuais.
Há, nos Estados
Unidos, um consenso geral acerca da necessidade de melhorar o sistema de saúde,
extremamente dispendioso e ineficiente - com um encargo de cerca de $6000,00 per capita - mas um profundo desacordo
quanto à forma de o fazer, por razões eminentemente culturais, em que uma parte
da comunidade política, de matriz conservadora, defende o não envolvimento do
Estado nesta matéria.
Geopolítica
O temor inicial
segundo o qual o ar truculento e fanfarrão de D. Trump iria provocar uma guerra em larga escala, não se
concretizou. O recurso à guerra é um estratagema que alguns líderes mundiais
têm usado para atenuar a crítica interna, unindo os cidadãos em torno de uma
ameaça, supostamente comum. Tal sucedeu com alguns dos seus antecessores, desde
Obama aos Bush. Mas também na Europa, como é o caso, mais recente, do
envolvimento da França e Inglaterra na guerra da Síria, pelas mãos de Hollande e de David Cameron. A administração Trump
não só não envolveu os americanos em nenhum novo conflito militar como
acabou por retirar as suas tropas da Síria apesar da inegável importância
estratégica deste país na região. Aliada histórica da Rússia e do Irão,
plataforma de expansão do islamismo xiita e do controle de largas reservas de
petróleo, o regime totalitário de Bashar al-Assad
é um permanente foco desestabilizador na região, em especial no Líbano, um país outrora democrático e
próspero e hoje pouco mais que um país falhado. Na guerra do Afeganistão,
iniciada em 2001 por George W Bush,
em retaliação pelo atentado de 11 de Setembro, nem Obama nem Trump lograram
conseguir a retirada total das tropas americanas - Obama iniciou o processo de
redução de tropas desde 150 mil até 8,5 mil homens - apesar de tal constar nos
correspondentes programas eleitorais. Pelo contrário, D. Trump, ainda reforçou o contingente americano com mais 3 mil
soldados; contudo, em 2018, este, assinou um acordo de paz com os Talibans. A
guerra prossegue nos dias de hoje no Afeganistão, um país à beira da indigência
- 169º no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).
No caso da Coreia do
Norte, apesar do desdém com que têm sido consideradas as iniciativas políticas
de D. Trump pelos seus detratores, a
realidade é que este conseguiu sentar à mesa das negociações Kim Jong-un, primeiro com os EUA depois
com a Coreia do Sul. Algo que nenhum outro esteve sequer perto de conseguir e
que atenuou drasticamente a ameaça permanente da eminência de um conflito
nuclear em larga escala. Uma tremenda vitória da administração Trump. Esta, por outro lado, não hesitou
em manter-se fiel ao Governo de Israel, reconhecendo a sua nova Capital,
Jerusalém. Tal não obviou a improvável adesão ao seu Acordo de Paz para a
região, do Bahrein, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita. Algo cuja
relevância só de má-fé pode ser negada. Relativamente ao Irão, descrente da sua
boa-fé no acordo de desagregação do seu plano nuclear, denunciou-o frontalmente,
retirando-se do processo de acompanhamento. O futuro dirá da bondade desta
estratégia. Por mim, confio menos na da EU, que parece estar amedrontada, a ser
enganada e chantageada. D. Trump
demonstrou, neste caso, que não é cobarde, nem irresponsável, uma vez que não
tomou qualquer iniciativa militar além de dissuasora. Relativamente à UE, a
política da administração Trump pautou-se
pela crispação, com a exigência de maior envolvimento daquela nas despesas
militares da OTAN, mas também devido às diferenças de abordagem das questões
iraniana, da imigração e do Brexit.
Sendo a Europa e os EUA aliados militares naturais, a concorrência no plano
económico é fonte permanente duma certa hostilidade entre ambos, seja com D. Trump,
com Obama ou com Biden. A invasão
migratória que tem ocorrido na Europa e que ameaça desagrega-la foi espoletada
pela guerra da Síria, iniciada pela Administração Obama e alimentada pela
Rússia, esta interessada em retaliar pelo boicote económico imposto por Angela Merkel.
Peniche 8 de Dezembro de 2020
António Barreto
quinta-feira, 10 de dezembro de 2020
USA - Eleições 2020 (IV)
As políticas
D. Trump definiu-se como conservador, nacionalista, defensor da
família tradicional, dos valores cristãos, do liberalismo económico e do
mercantilismo.
Imperialismo
Anti-globalista
defende o mercantilismo, o comércio internacional com regulação. É interessante
verificar como muitos dos que censuram o imperialismo americano passaram a
acusar D. Trump de, com o seu
nacionalismo, deixar os seus aliados externos sem referências abrindo espaço
geoestratégico ao avanço de potências não democráticas; a russa e a chinesa. É
certo que a abertura económica é fonte de progresso e tem contribuído
decisivamente para a erradicação da pobreza no mundo. Mas também é verdade que
o desequilíbrio da razão de troca agrava a desigualdade entre países pobres e
ricos, perpetuando a dependência daqueles relativamente a estes. Desse mal
ainda padece Portugal por, no século XVIII ter feito um acordo de comércio com o
Reino Unido - o Tratado de Methuen assinado
em de 27 de Dezembro de 1703 também conhecido por tratado de panos e vinhos -,
mediante o qual Portugal prometeu comprar os tecidos ao Reino Unido (RU) - o
maior produtor mundial de tecidos da época – e, este, os vinhos a Portugal. David Ricardo, o lendário economista da
época, demonstrou então como ambas as
partes ganhavam com o negócio; simplesmente a razão de troca era desfavorável a
Portugal - de 1 para 3 -, enquanto a do RU era de 1 para 5! O resultado
traduziu-se no empobrecimento relativo de Portugal e no atraso da sua
industrialização, de que ainda hoje padecemos. Também não deve perder-se de vista
que alguns historiadores consideram a política económica nacionalista de Roosevelt uma das causas da 2ª GM, por
impossibilitar à Alemanha os recursos de que necessitava para pagar as
astronómicas indemnizações de guerra que lhe foram impostas no Tratado de Versaillhes em 28 de Junho de 1919. Tudo
ponderado, considerando ainda o agravamento da dívida externa - atualmente
cerca de 100 % do PIB - e do défice orçamental - atualmente, cerca de 5 % do
PIB - dos EUA em razão da crise de 2008 e da política de desagravamento fiscal de
D. Trump, não é destituído de senso que a sua administração procure
inclinar a balança externa a seu favor atuando nas pautas alfandegárias e
cambiais relativamente aos principais parceiros, em especial a China. Trata-se,
afinal e sobretudo, de travar a desindustrialização do país e consequente
desemprego que se tem verificado nas últimas décadas devido à deslocalização
empresarial. A sabedoria reside na capacidade de encontrar o equilíbrio de
interesses. A tudo isto acresce a perceção geral de que a globalização é um
veículo político e económico para a instauração dum governo mundial gizado e
controlado pela ONU graças à maioria socialista dos seus membros controlados
pela China. Um propósito cujos contornos ganham nitidez a partir das repetidas
e explícitas declarações do socialista António Guterres concordantes com a conhecida
aspiração imperialista da 2ª Internacional e do Império do Meio.
Aquecimento Global
Crítico do Acordo de
Paris, D. Trump deu prioridade à
energia de origem fóssil em detrimento da renovável, propondo-se atingir os
objetivos de redução de emissões de CO2 por outras vias. Sustenta-se
no parecer científico, historicamente comprovado, segundo o qual as alterações
climáticas são naturais e que o impacto do aumento da concentração de CO2
na temperatura ambiente, sendo marginal, é, sobretudo, consequência do aumento
de temperatura dos oceanos e não causa do mesmo. Este tema engloba quatro
questões; a energética, a económica, a política e a geoestratégica. Com a
implementação da tecnologia do fracionamento - desenvolvida nos EUA - na
prospeção e exploração do petróleo e gás - natural e de xisto -, os EUA, que
são os maiores consumidores mundiais de petróleo, passaram, também, a ser os maiores
produtores mundiais, com baixos custos de produção unitários. De importadores
de produtos petrolíferos passaram a exportadores dos mesmos. Esta alteração
retirou à OPEP o poder de controlo das economias ocidentais através do controlo
do principal fator de produção; a energia. Deve-se à evolução tecnológica dos
EUA - ocorrida sob a presidência de Obama
- os baixos preços do petróleo nos mercados internacionais - uma grande ajuda
para países energeticamente dependentes como Portugal. A vertente geoestratégica
está ainda bem patente relativamente à União Europeia (UE) uma vez que esta
aposta, determinadamente, nas energias renováveis, sujeitando-se à perda de
competitividade da sua economia devido ao agravamento dos custos unitários de
produção. Finalmente a questão política reside no facto de a causa ambiental,
propulsionada pela ONU, ter sido “apropriada” pelos partidos de matriz
socialista com o propósito de identificar, isolar e combater os regimes capitalistas.
Um dever de convocação planetária cuja solução só parece alcançável com o fim
do capitalismo! Como se as ideias maniqueístas não estivessem testadas pela
História.
Imigração
Contrário à política
de fronteiras abertas D. Trump proibiu
a imigração de países com histórico de envolvimento em atividades terroristas -
com exceções - e impôs o controlo rigoroso do fluxo migratório pelo sul, de
matriz eminentemente mexicana. Os EUA enfrentam o drama demográfico
característico dos países desenvolvidos tipificado na fase quatro da Teoria da
Transição Demográfica (TTD). Com uma população de cerca de 330 milhões de
habitantes - 12, 7 % das quais nascidas no estrangeiro, 11,3 % de origem
mexicana, 12,3 % de afro-americanos e uma taxa de reposição de 1,82 -, a sua estrutura
demográfica encontra-se num processo de envelhecimento e reconfiguração étnica.
O México, com cerca de 123 milhões de habitantes - o 3º mais populoso das
américas, com uma taxa de reposição de 2,1, encontrando-se na 3ª fase da TTD -
contribui, anualmente, com cerca de 1,2 milhões de emigrantes maioritariamente ilegais.
Nesta cadência, em menos de 20 anos a população de origem mexicana ascenderá a
cerca de 50 milhões, quase 15 % do total da população americana atual - e cerca
de 40 % da população mexicana atual total. Esta reconfiguração social conduzirá
ao inevitável agravamento conflitos sociais e políticos no país. Contudo, com a
taxa de reposição da população no limiar da neutralidade e em queda no México,
o fluxo migratório mexicano tenderá a diminuir. Note-se porém que os Estados
Unidos têm uma dívida de gratidão para com o México que, por ocasião das duas
guerras mundiais lhes forneceu a mão-de-obra de que a sua economia carecia. Por
outro lado vigora entre os dois países um acordo de livre comércio entre as
cidades fronteiriças. Finalmente, há, no México, uma comunidade de cerca de um
milhão de cidadãos americanos. Com Presidente conservador ou democrata, com
mais ou menos discrição, a política de emigração dos USA será tendencialmente
de contenção acompanhada de incentivos à natalidade. É no entanto provável que
os democratas apostem no incremento migratório como forma de alterar a seu
favor o impasse eleitoral que se tem verificado no país nos últimos anos. A
demonstrá-lo está o diferendo entre democratas e republicanos em vésperas do
ato eleitoral, em que estes defenderam a exclusão dos imigrantes ilegais dos
cadernos eleitorais e aqueles o contrário. Por outro lado D. Trump defende a prioridade de acesso à carta verde aos
imigrantes mais qualificados em vez do modelo em vigor que privilegia a reunião
familiar. Está em causa não só o impacto económico do contributo imigratório mas,
sobretudo, o impacto político. Por outro lado, também a administração Obama repatriou de imigrantes ilegais,
incluindo dezenas de milhar de crianças - para cujo efeito a sua administração chegou
a pedir aprovação de financiamento ao Congresso - e se desenvolveram políticas
de combate aos traficantes envolvidos no fenómeno da imigração.
Peniche, 8 de Dezembro de 2020
António Barreto
terça-feira, 8 de dezembro de 2020
USA - Eleições 2020 (III)
As castas
A supressão dos
privilégios da aristocracia e do clero, característicos das monarquias, pelos
regimes republicanos - fundados na tripla utopia, liberdade, igualdade e
fraternidade -, não obstou à emergência de novas castas e correspondente
cortejo de privilégios. Castas relacionadas com a esfera partidária, judicial,
militar, económica e do alto funcionalismo público. A desigualdade começa aqui,
desacredita a República e a democracia, perpetua-se e tende a agravar-se com as
sucessivas gerações. A casta partidária, geralmente instalada na administração
pública e com acesso às instâncias de poder, atribui-se a exclusividade da
representatividade política. A ascensão política extemporânea de D. Trump, um outsider pragmático, financeiramente independente, oriundo da
sociedade civil, vinculado à defesa dos interesses da América profunda, contra
os poderes instalados, fez soar o alarme, não só entre o partido oponente como
no interior do seu próprio partido. A sua lógica fora do filtro partidário
suscitou compulsivas reações hostis radicadas no medo da perda de privilégios e
de poder. A sua figura grotesca, o ar desajeitado, o discurso meio
desarticulado e um passado social e económico polémico, forneceram pasto
abundante à maledicência dos adversários. Ao bom estilo socrático, a uma figura
caricatural, diabólica, está vedada a produção de boas ideias. Como tal nem
vale a pena discuti-las. Apenas afastar a criatura para bem longe, catalogando
os seus apoiantes com a habitual parafernália de epítetos vexatórios;
estúpidos, incultos, ignorantes, atrasados, etc..
O Declínio dos
Candidatos
Um breve olhar pelos Presidentes dos EUA dos
últimos 50 anos permite constatar um declínio dos respetivos perfis. Neste ato
eleitoral chegam ser patéticas as mútuas acusações de incompetência dos
candidatos, inclusive entre membros dos respetivos partidos. Se D. Trump é considerado rude e boçal, J. Biden é apelidado de senil,
taralhouco. Nenhum destes classificativos seria aplicável a Ronald Reagan, Bill Clinton, George H. W.
Bush ou Obama. Parece haver um estranho mecanismo na democracia americana,
a confirmar a velha máxima de Adam Smith,
segundo o qual a má moeda afasta a boa moeda. Mais uma vez trata-se de uma
característica de quase todas as democracias, visível em Portugal, Espanha,
França, Reino Unido e Itália onde se tem assistido a fenómenos idênticos, seja
emergindo do seio dos partidos de poder, seja na sequência da emergência de
novos partidos. Talvez o jogo democrático tenha resvalado para uma espécie de
aviltamento que afasta as verdadeiras elites da causa pública. E isso constitui
uma ameaça às democracias.
Forma e conteúdo
Diz o bom povo; “As
aparências iludem” e “quem vê caras não vê corações”, aforismos que permanecem
atuais em qualquer vertente da atividade humana e em particular na política,
essa arte simultaneamente nobre e aviltante da persuasão. A forma precede o
conteúdo. Vê-se por todo o lado e em todo o lado. Viu-se exuberantemente, exageradamente,
despudoradamente, com D. Trump, nos
Estados Unidos, mas também em Portugal. A sua figura meio grotesca, meio
patética, a sua retórica rudimentar, direta, proporcionaram vasto campo de
enxovalhamento pessoal. Nenhuma boa ideia poderia sair de figura tão
repugnante. Um conceito puramente nazi. Choveram acusações de todo o género; de
corrupção, de traição ao país, de racismo, de xenofobia, de homofobia, de
machismo, de violação, etc. etc. Pelo Frankenistein
que ocupava a Casa Branca todas as monstruosidade eram praticáveis e prováveis.
Raramente se encontrava uma análise crítica exaustiva ao seu programa de
governo nos meios de comunicação social. Especialmente em Portugal. A tática é
simples e recorrente; desacreditando-se a pessoa desacreditam-se as suas
propostas evitando-se o confronto de ideias cujo resultado pode ser o contrário
ao pretendido.
Peniche, 8 de Dezembro de 2020
António Barreto
domingo, 6 de dezembro de 2020
USA - Eleições 2020 (II)
O quarto poder
Há um consenso acerca
da influência da Comunicação Social nas democracias a ponto de ser considerada
como o 4º Poder. Um poder informal mas real e fácil de compreender. Em
democracia - um homem um voto - o espaço público é o local privilegiado de
debate e formação da opinião pública, das convicções do eleitor, daí a
importância de comunicação social. Importância crescente devido à proliferação
de plataformas e órgãos de informação, aumento da frequência de emissões e
publicações e alargamento do nível de escolaridade das populações. E é por isso
que muitos a consideram, não o quarto, mas o primeiro poder! Nunca tal foi tão
evidente para mim como nestas eleições; a declaração de vitória de Joe Biden
pela CNN, primeira entidade a fazê-lo, com as urnas ainda em alvoroço e a
comoção do anunciante, denunciam a guerra que a Comunicação Social,
maioritariamente democrata, travou contra o Presidente Republicano durante todo
o mandato. Não o posso afirmar, ninguém poderá fazê-lo, mas pergunto-me se não
terá sido a Comunicação Social americana a decidir estas eleições. E se foi
desvirtuou um regime onde cabe aos eleitores o primado da soberania política. Uma
democracia desvirtuada não é democracia.
A tribalização política
A degradação do
diálogo político interpartidário, fonte da criação de uma sociedade mais justa
e próspera esteve francamente exposta durante todo o mandato de D. Trump. Os partidos entrincheiraram-se
nas suas posições e passaram a considerá-las abomináveis quando adotadas pelo
oponente. Ignóbeis e absurdos ataques pessoais perpetraram-se continuadamente,
dum e doutro lado da barricada, deixando de fora os grandes temas da nação. A insana
e irracional luta pelo poder sobrepôs-se a todas as regras de boa conduta
democrática, dominando tudo e todos. Um fenómeno que não é exclusivo dos EUA
mas característico da maioria das democracias, comprometendo-as. Ou evoluem ou
morrerão. O monopólio partidário da representação política está em causa.
O Poder da Rua
O ativismo inundou a rua em toda a legislatura, com inúmeras
e violentas manifestações de minorias reivindicando direitos, amplificando e
extrapolando qualquer acontecimento negativo transformando-o em tragédia sociai
coletiva. Exigiu-se a destituição de órgãos legítimos vigentes. Imputou-se-lhes
a responsabilidade de todas as iniquidades sociais e económicas. Reivindicou-se
a legitimidade da ação direta. Criou-se um estado de pré-guerra civil
condicionando e bloqueando a governação sufragada democraticamente. Tudo
ocorreu num contexto de progresso económico notável, de pleno emprego e de
integração das minorias. O poder da rua, pré-revolucionário, atribui-se
legitimidade própria pretendendo sobrepor-se à legitimidade do poder
democrático. A entropia política e social foi uma constante, internacionalizou-se
e pôs em causa a legitimidade dos centros de poder. A anarquia social estabeleceu-se,
alimentada pelo partido derrotado anteriormente e, suspeita-se, por entidades
externas empenhadas na permanente luta pelo domínio geoestratégico. O direito
de manifestação, em muitos casos, extravasou as prorrogativas legalmente
consagradas. Um fenómeno que se verifica nas democracias e que dá lugar ao
paradoxo da subjugação das maiorias pelas minorias graças à grande intensidade
do ativismo destas.
Peniche, 6 de Dezembro de 2020
António Barreto
domingo, 29 de novembro de 2020
USA - Eleições 2020 (I)
Introdução
Sete dias depois do ato eleitoral a contagem de votos aproxima-se do fim com a vitória do candidato democrata Joe Biden a definir-se com clareza, a despeito das múltiplas denúncias de irregularidades por parte do seu oponente que levaram à recontagem de votos nalguns Estados.
A falta de
envolvimento direto na realidade social, económica e política americana, se,
por um lado, relativiza a credibilidade das conclusões de quem se encontra
nessa condição - o meu caso -, por outro, confere-lhe a descontaminação que o
distanciamento proporciona.
Em todo o processo
definiram-se contornos de natureza política e social comuns a muitos países democráticos.
Um país dividido
Que me recorde esta divisão já ocorria por ocasião da eleição
do 43º Presidente dos EUA, em que George
W. Bush ganhou a Al Gore por “uma unha negra”, repetiu-se na eleição de D. Trump contra Hillary Clinton e agora entre Joe
Biden e D. Trump.
Estão em confronto
duas realidades sociais e económicas distintas; a das populações dos grandes
centros urbanos, qualificada, da economia dos serviços, intelectual, ateia ou
pagã, próxima dos centros de poder, e progressista, e a do país profundo,
rural, artesão, cristão, distante dos centros de poder, e conservador. Algo semelhante
ocorre, por exemplo, em Portugal, Espanha, França, Reino Unido, etc. Diz-nos a
história, que, em geral, é a “canalha das cidades” que define os ciclos
políticos. Portugal é disso exemplo, nomeadamente, em 1383-1385, em 1640 e em
1910.
É neste contexto que
se compreende a importância do fenómeno da imigração maciça que tem ocorrido
nos últimos tempos. Apoiados incondicionalmente pelos democratas é natural e
inevitável a sua preferência por este partido tendo em conta a estratégia de
controlo dos fluxos migratórios pelos republicanos e a natureza do regime
político dos respetivos países de origem de matriz política maioritariamente socialista
ou afim. É por esta razão que me parece que o que subjaz à tomada de posição
partidária relativamente à imigração são razões eminentemente eleitorais e não
humanitárias. A imigração parece estar a ser fomentada e usada com o propósito
de reconfigurar socialmente os EUA, o que ocorre também na Europa.
Desconfiança eleitoral
As denúncias de
irregularidades neste ato eleitoral são persistentes e abundantes tal como
ocorreu em eleições anteriores. Numa democracia que é o referencial em todo o
mundo livre a repetida entropia à volta do ato eleitoral degrada a sua
legitimidade. A relutância de D. Trump
em aceitar a derrota radica não só, em alegados testemunhos de irregularidades
mas sobretudo no ressentimento provocado pela postura dos democratas em todo o
mandato anterior caracterizada por insistentes suspeitas de manipulação
eleitoral em seu benefício e com a ameaça de impeachment sempre pendente. Quando, num ato eleitoral,
sucessivamente, o derrotado não reconhece a derrota, é a própria democracia que
se degrada, neste caso, americana. Não tardará a contaminar todas as outras. Uma
nova idade das trevas pode estar no horizonte, vislumbrando-se alguns dos seus
contornos.
Peniche, 29 de Novembro de 2020
António Barreto
segunda-feira, 16 de novembro de 2020
Assim Como Vai: Ela entrou como um pássaro no museu de memórias
domingo, 8 de novembro de 2020
Lex Barker
Lex Barker nasceu em 1919 na povoação de Rye, em Westchester County - a cerca de 50 Km de Nova Iorque - à época com cerca de 5 mil habitantes -, onde seus pais, construtores bem sucedidos, tinham uma segunda habitação.
Lex Barker
Contrariando a vontade dos progenitores, Lex desde muito jovem quis ser ator. Depois de uma pequena experiência na escola e no teatro de Mount Kisco - povoação próxima de Rye -, foi na cidade natal que, aos 17 anos, teve a primeira experiência séria, no Teatro de Verão, ao lado de Vincent Price e da estrela, de origem russa, Eugenie Leontovich. Apesar de desanimado com a experiência decidiu dedicar-se à profissão de ator após novo papel na peça Anna Christie no teatro da cidade vizinha de Westport County. Não muito longe dali, no rio Hudson, o seu destino estava escrito.
Depois de desempenhar pequenos papéis
em filmes de grande qualidade, como “The Farmer’s Daughter” e “Crossfire”,
ambos realizados em 1947, Lex Barker
foi bafejado pela sorte - comum a muitos grandes atores -, ao ser escolhido pelo
produtor Sol Lesser, entre uma
multidão de candidatos, para sucessor do lendário Johnn Weissemmuller na representação do personagem criado por Edgar Rice Borroughs, o célebre Tarzan. O
seu porte atlético - cerca de 1,90 de altura -, gerou unanimidade na escolha, autor
incluído. Na verdade havia algo mais que aproximava Lex Barker do personagem de Borroughs.
De origem hispano-britânica, descendente de Roger
Williams - fundador da cidade de Providence e cofundador da colónia de Rhode Island, e de William Henry Crichlow, histórico governador-geral de Barbados ainda
no tempo dos piratas, Lex Barker tinha
o charme apropriado às nobres origens do rei da selva.
Em 1939 Lex Barker entra na peça “The Five Kings”, realizada por Orson Wells na Broadway. É recrutado como soldado raso de infantaria para a 2ª GM.
Regressou em 1945 no posto de Major - o mais jovem das Forças Armadas
Americanas - altamente condecorado e com uma placa de platina na zona da
têmpora em consequência dum grave ferimento de guerra. No mesmo ano retomou a
sua carreira participando no filme Doll
Face.
Em 1949 iniciou a sua saga na
pele de Tarzan com o filme “Tarzan Magic’s Fountain”, que se revelou um sucesso
junto do público, da crítica e, consequentemente económico. Seguiram-se “Tarzan
and The Slave Girl”, em 1950 e “Tarzan’s Peril”, em 1951, o primeiro realizado
na selva africana. Porém, Lex Barker,
cansado de ser visto como “o homem da selva”, aspirava a papéis onde pudesse
exprimir todas as suas qualidades de ator.
Em 1952 entra num pequeno filme “Battles
of Chief Pontiac”, um western de
fraca audiência. “Tarzan and the She-Devil”, realizado em 1953, foi o seu
último filme desta série e um grande sucesso de bilheteira. No mesmo ano prossegue
no género western com “Thunder Over
the Plains” e “The Yellow Mountain”, em 1954, um policial, “The Man From Bitter
Ridge”, em 1955, e um drama naval “Away All Boats”, em 1956, com os quais granjeou
aclamação geral. Seguiram-se, em 1957, “The Girl in Black Stockings” e “The DeearsLeyer”,
com os quais terminou o ciclo Hollywood.
Falando fluentemente francês,
italiano e espanhol, Lex Barker
partiu para uma carreira na Europa chegando a Itália, onde estavam na moda os
filmes de aventuras, género em que se se sentia à vontade. Em 1959 a sua
carreira sofreu um novo impulso com o convite de Frederico Fellini para integrar o elenco de “La Dolce Vita”, onde contracenou
com Marcello Mastroianni, Anita Ekberg e outras estrelas da época.
Nova viragem ocorreu na sua
carreira quando, pela mão do produtor Artur
Brauner, fez uma incursão no cinema alemão, desempenhando o papel de Joe Como - agente do F.B.I. destacado
para combater o infame Dr. Mabuse -, nos
filmes de suspense “Return of Dr Mabuse”, em 1961, e “Invisible Dr Mabuse”, em
1962. Com “Frauenarzt Dr. Sibelius “ e “Old
Shatterhand “, realizados ainda em 1962, Lex Barker atingiu o estrelato também na Europa.
A sua popularidade, em declínio na
América, rapidamente ultrapassou, na Europa, a das superestrelas John Wayne e Clint Eastwood, ao integrar as superproduções do jovem Horst Wendlandt alusivas ao tema do
Oeste Selvagem, superando todos os recordes de bilheteira e abrindo caminho às
grandes produções de Sergio Leone.
Cerca de 12 filmes, baseados nas
novelas de Karl May, protagonizou
nesta fase, tendo como pano de fundo, o Oeste, o México e o Oriente, onde desempenhou
as personagens de, respetivamente, “The Olde Shatterhand”, “Dr. Sternau” e “Kara
Bem Nemsi”. Os filmes “The Treasure Of Silver Lake”, em 1962, e “Apache Gold”,
em 1963, serviram de referência para o cinema do género. Os locais das
filmagens, Croácia e Espanha, constituíram uma vantagem por propiciarem uma
atmosfera condizente com o teor da história.
O público ficou deliciado com o
aparecimento de personagens índios em pé de igualdade com os pioneiros americanos
em “Winnetou I”, em que o francês Pierre
Brice, fez o papel da chefe Apache Winnetou,
irmão de sangue de Lex Barker. A
grande popularidade do tema do filme, “The Old Shatterhand” impulsionou o
talentoso ator americano, em 1965, a gravar baladas românticas, género western,
algumas delas compostas por Martin Boettcher.
A sua carreira prosseguiu por
todo o mundo em grandes produções europeias com os filmes de Karl May. Desta fase os mais icónicos
são “Code 7,
Victim 5”, de 1964, onde faz o papel de um agente privado
encarregado da investigação de uma série de homicídios na África do Sul, “Die Slowly,
you'll enjoy it more”, em 1966, no papel de espião tipo James Bond em versão cómica; e “Blood Demon”,
em 1967, um filme de terror baseado no romance de Edgar Allan Poe “The Pit and the Pendulum”, rodado em autêntico
ambiente medieval, com o “Drácula” Christopher
Lee na pele de antagonista.
O simpático americano pôde ainda
ser admirado como durão do Oeste em “A Place
Called Glory, em 1965”, no qual decorre um interessante duelo de
pistoleiros, e em “ La balada de
Johnny Ringo”, em 1966, onde, por uma vez faz o papel de vilão. Em
1967, protagoniza, ao lado de Shirley McLaine,
Anita Ekberg, Michael Caine e outros, “Woman Times Seven”, a única produção
americana noa anos 60 com Lex Barker.
Com o advento dos filmes western e eróticos italianos então em
voga, escassearam as propostas para Lex
Barker. Tendo conseguido, na Europa, tudo o que havia para conquistar, o
ator americano regressou a sua casa na Costa Brava, determinado a prosseguir a
sua carreira em Hollywood e viver na
sua América. As dificuldades porém superaram as suas espectativas. A sua
atividade limitou-se à participação nalgumas séries televisivas como ator
convidado em “It Takes a
Thief” e “The King of Thieves”. Os espetadores alemães puderam ainda
vê-lo num sketch ao lado de Ron Ely, o novo Tarzan televisivo alemão.
Nos anos 70 a carreira de Lex Barker prometia novo fôlego. “"When you're
with me", produzido na Alemanha em 1970, fora o seu ultimo filme. Novas
produções na televisão e no cinema estavam “na calha”, com Lex Barker como protagonista. Porém, o destino tinha outros planos
para o grande ator americano; Lex Barker,
o ídolo das gerações dos anos 60 e 70, o grande Tarzan, morreu de ataque
cardíaco em 11 de Maio de 1973 na avenida Lexington na sua Nova Iorque.
Lex Barker foi casado com, Constanze
Thurlow, Arlene Dahl,
Lana Turner, Irene Labhardt, e Maria del
Carmen 'Tita' Cervera. Teve dois filhos e uma filha e ficou imortalizado em
73 filmes.
Obrigado Lex Barker.
(Créditos a Marlies Bugmann)
Peniche 08 de Novembro de 2020
António
Barreto
domingo, 1 de novembro de 2020
Cinco míseros escudos
Eh pá, se fores a terra não leves dinheiro! Quando eles topam assaltam a malta. Assim fiz; fui a terra sem um tostão no bolso! Uma das coisas mais estúpidas que fiz na minha vida marítima!
Foi pelos idos de 73, teria aí uns 22 anos. O Uíge fazia a carreira Lisboa-Bissau-Lisboa. Transportava militares, nos dois sentidos. Uma missão algo deprimente. Especialmente deprimente quando alguns tripulantes aproveitavam para fazer um dinheirinho extra. A bordo vendiam-se relógios, rádios, sandes, sei lá mais o quê, aos jovens e ansiosos militares que viajavam nos porões atulhados. Daquela vez, não sei o motivo, o navio fez escala em Cabo Verde, salvo-o-erro no Mindelo.
Admirador da música cabo-verdiana, do Bana, do Eugénio Tavares, do
Fernando Queijas, do tom dolente e ritmo ondulado das mornas e da alegria
vibrante das coladeras, tinha que a ouvir na fonte, nas tabernas, onde era
tocada em modo livre - tipo “jam session" -, habitualmente em convívio de
gerações que incluía instrumentos típicos como, rabeca, violino, viola,
cavaquinho, clarinete, reco-reco e maracas, entre garrafas de vinho tinto e
cachaça e alguma "bucha" para enganar a fome.
Anoitecia quando o navio atracou. Anda tinha umas horas livres, três ou
quatro antes do próximo quarto. E lá fui, à sorte, na direção da cidade,
perguntando às poucas pessoas que ia encontrando, por uma tasca onde fosse
possível ouvir música.
Ao passar numa rua escura, ouvi os sons ténues do que parecia ser uma
rabeca. Fui atrás deles. Encontrei a taberna. Entrei. Uma ténue luz amarelada
difundia-se na pequena sala logo após a entrada, de portas escancaradas. Em
frente o balcão com algumas garrafas e copos de vinho e cachaça. Taberneiro no
seu posto, trapo ao ombro e olhar inquisidor. Uns quantos clientes, quatro ou
cinco, estavam por ali, pacatamente, conversando e bebendo. De uma das salas do
lado vinha um som meio fanhoso da tal rabeca e algo semelhante a maracas e
reco-reco. Disseram-me que estava lá um certo fulano a tocar com miúdos “se
calhar é uma espécie de escola, pensei”. Um dos presentes, um pouco mais velho
que eu veio em minha direção. Conversámos. Não se podia entrar na sala donde
vinha a música. Era o reservado! Pediu duas violas, mandou vir uma garrafa de
vinho tinto, chamou dois colegas e fomos para uma salinha anexa, aberta.
Eram bons de viola; sobrava-lhes tempo para aprender e tocar. Tal como a
mim, afinal. Tocaram umas modas, várias; mornas e coladeras. A solo e em duo.
Maravilhado com tudo aquilo, quando chegava a minha vez acompanhava-me nuns
fadinhos, daqueles que todos os portugueses conhecem. Disseram que era bom.
Quis acompanhá-los nas coladeras. Que não, que não dava. Que não sabia. Era
verdade; não é fácil fazer os baixos bamboleantes da morna e os arpejos ritmados
da coladera. Pelo meio, íamos bebendo uns tintos, entusiasmados com a tertúlia.
“Este é que era bom para tocar connosco”. Ouvi entre a pequena multidão que se
foi juntando. “Pois era, pensei, para mim era, mas…amanhã já cá não estou!
Vamos a todo o lado e não estamos em parte nenhuma.”
Chegada a hora - Foi até à última -, despedi-me e saí. Já na rua,
percebi que era seguido. Voltei-me. Era o músico de quem tinha acabado de me
despedir. Olhei para ele sob a luz mortiça que se escapava da porta da taberna.
Era jovem, sim. Meio andrajoso, vestia algo parecido com zuarte, calças
rasgadas nalguns sítios e…descalço! Descalço, meu Deus!
Comovi-me. Tínhamos ficado amigos. Como era possível andar roto e
descalço? Pediu-me cinco escudos para uma garrafa de vinho. Disse-lhe a
verdade; não tinha! Insistiu dizendo que impedira um colega de me assaltar, de
navalha. Voltei a dizer-lhe que não tinha e convidei-o a acompanhar-me a bordo.
Dar-lhe-ia então, com todo o gosto, algum dinheiro. Não quis. Eu não tinha
tempo de ir e voltar, estava a pé.
Olhei-o mais uma vez, antes de retomar o caminho de regresso, triste e
comovido, sentindo-me profundamente estúpido por ter acatado o conselho do meu
camarada…até hoje. Ocorreu-me mais tarde que talvez tivesse aceitado a camisa,
se lha tivesse oferecido. Soube muito tempo depois que, por essa altura,
abatia-se sobre Cabo Verde a maior seca das décadas precedentes.
Desapareceu na penumbra. Nem sequer recordo o seu nome. E se o soube,
esqueci-me dele!
24 de Outubro de 2020
António Barreto
Benfica 2020 - Resultados eleitorais
A novidade destas eleições não residiu na vitória da lista de Filipe Vieira mas no resultado significativo da Lista de Noronha Lopes e na estrondosa derrota de Gomes da Silva.
Filipe Vieira tinha os trunfos na
mão e jogou-os no momento certo. Com o regresso de Jesus, a contratação de bons
jogadores, um início de época auspicioso e promessas de um futuro europeu
risonho, depressa os benfiquistas esqueceram o fracasso da época anterior e optaram
pela continuidade, receosos da turbulência desportiva que uma mudança de rumo
acarretaria na época em curso. Porém o comportamento de Filipe Vieira ficou indelevelmente
marcado pela negativa ao ter-se recusado a debater com os dos outros candidatos
e ao vedar o acesso destes à BTV onde poderiam explanar as suas ideias. Os
interesses do Benfica estão acima dos de qualquer candidato ou Direção, e o seu
destino deve ser decidido pelos sócios. Manter a BTV fora da campanha eleitoral
com o pretexto de evitar o “ruido”, constituiu uma habilidade maldosa que contraria
a cultura aberta e democrática do clube. Saiu beneficiada a lista de Filipe
Vieira uma vez que a estação, implicitamente e desonestamente, foi fazendo
campanha em seu favor.
Noronha Lopes, aparecendo a
poucos meses do ato eleitoral com um projeto mobilizador, dinâmico, virado para
o sucesso desportivo da equipa masculina de futebol sénior, congregou um vasto grupo
de apoiantes entre os quais, ídolos do futebol, figuras da cultura, académicos,
gestores, empresários, etc. Gente com acesso ao espaço público, com boas ideias
e com disponibilidade para as discutir e aprofundar. A votação expressiva na lista
de Noronha Lopes, deixa filipe Vieira com margem de erro residual no mandato em
curso e coloca sob pressão o seu eventual sucessor, Rui Costa.
Gomes da Silva, não obstante a
sua determinação, obteve uma estrondosa derrota, que o afasta de quaisquer
ambições futuras. Julgo porém que terá sido vítima do voto útil. Muitos dos
seus apoiantes terão intuído vantagem da lista B e mudaram a sua decisão de
voto. Por outro lado foi também prejudicado pela vertente negativa da sua
campanha e pela tardia apresentação pública da sua equipa. Sem dúvida alguma é
dele o mérito do aparecimento duma oposição robusta a Filipe Vieira. Oposição
imprescindível ao progresso do clube, ainda que à custa de alguma turbulência.
De sublinhar a entrada em liça de
Bernardo Silva cujas declarações certamente contribuíram na ponderação de mutos
sócios que vêm nele o símbolo do adepto genuíno. Já Jorge Jesus deveria ter
ignorado a rasteira do jornalista e ter-se abstido de comentar o assunto.
Resta esperar que não ocorra a
dispersão dos opositores, que estes se revelem funcionais no acompanhamento do dia-a-dia
do clube, na sua defesa perante inimigos externos e, sobretudo, na apresentação
e discussão de propostas estratégicas para o futuro.
Peniche, 01 de Novembro de 2010
António Barreto
quarta-feira, 21 de outubro de 2020
Benfica - Eleições 2020
Defendi, convictamente, o projeto de Luís Filipe Vieira para o Benfica. Subestimei as dúvidas que foram surgindo; a forma algo enviesada como acedeu à presidência, o passado de amizade com Pinto da Costa, os recorrentes apelos à gratidão dos benfiquistas para com um dos piores inimigos do seu clube, Joaquim Oliveira, os permanentes enxovalhos à gestão e à pessoa de Vale e Azevedo, promovendo a desunião dos sócios, a contratação para os quadros do “clube-sad” de ex-colaboradores dos rivais, alguns dos quais com um passado hostil clube, o deplorável caso do motorista condenado por envolvimento em negócios de estupefacientes, etc. Tudo isto me parecia secundário perante um projeto que prometia fartas vitórias a médio-prazo, concluído o equilíbrio económico e financeiro e a criadas as infraestruturas inerentes. As circunstâncias do fracasso do penta porém desmoronaram a minha fé!
Nessa época de profundo
desencanto, apesar da reiterada afirmação pública de empenho no penta-campeonato,
a Direção do Benfica pouco fez para o concretizar. Com efeito, com uma receita
de cerca de 240 milhões de euros em vendas de jogadores cruciais na manobra da
equipa, negligenciou o reforço da mesma. Curiosamente, nessa mesma época foi
negociada a venda dos direitos desportivos do Benfica à NOS e decidido o
pagamento de 100 milhões de euros ao NB. Joaquim Oliveira reconstituiu o seu
falido grupo empresarial e Filipe Vieira conseguiu a generosa reestruturação da
sua dívida. Tanta coincidência foi demais, para mim.
A confirmação veio
na época transata em que, apesar do desafogo financeiro, não foram colmatadas
as fragilidades da equipa, apesar de evidentes a um leigo. Disso beneficiou o
rival Porto, acabando por ganhar, apesar do seu mau futebol e do estado de pré-falência
em que se encontrava.
Por outro lado, dezassete
anos é um lapso de tempo suficiente para avaliar a qualidade do desempenho da
Direção em exercício. A seu crédito contabilizo o magnífico projeto de formação
do futebol, o ecletismo, o sucesso do atletismo, em especial do masculino, a
construção do, outrora utópico e sempre adiado museu, a constituição da
Fundação Benfica e da Benfica TV, e o carinho com que tratou muitas das glórias
do clube. Em seu descrédito considero, a insuficiência de títulos conquistados
no futebol sénior e nas modalidades, à exceção do voleibol, o descalabro do
desempenho europeu da equipa de futebol sénior, a demolição do antigo, único e
icónico estádio, trocando-o por outro modular, sem alma, sem história, a
acumulação duma gigantesca e asfixiante dívida, a incapacidade reiterada de
defesa do clube nos areópagos desportivos, judiciais e públicos, a degradação
reputacional do clube resultante de sucessivos escândalos, o afastamento
progressivo dos sócios e adeptos do dia-a-dia do “clube-sad” em troca duma
insuportável “corte” compulsivamente e exclusivamente encomiástica, a
incapacidade de eliminar uma certa promiscuidade entre assuntos pessoais e os
do “clube-sad” e a implementação de uma cultura de relativização dos insucessos,
em que se transformam pequenos clubes em grandes adversários e grandes clubes
em adversários inacessíveis. Em suma, uma Direção com um modelo de gestão
autocrático e manipulador, que degradou a cultura do Benfica conformando-o com
as derrotas, e arrastando-o para situações indignas.
Por todas estas
razões é minha convicção de que o Benfica precisa de um novo fôlego, um novo
ímpeto que resgate a sua histórica e quase transcendental ambição de ganhar. Ganhar
interna e externamente, ante qualquer adversário e em qualquer circunstância.
As infraestruturas e o património imobiliário têm importância instrumental,
enquanto ao serviço do objetivo primordial; ganhar!
Nestas eleições não
faltam candidatos, destacando-se, além de Luís Filipe Vieira, João Noronha
Lopes e Rui Gomes da Silva. A vantagem parece estar do lado de Filipe Vieira, que,
numa atitude contrária à tradição do clube, recusa o debate com os adversários
vedando-lhes o acesso às plataformas mediáticas internas de que é exclusivo
beneficiário.
Apesar de um início de
época prometedor e da reconhecida qualidade do grupo de trabalho atual criar a justa
expetativa de uma época vitoriosa, a história recente diz-nos que, a ocorrer, provavelmente,
será sol de pouca dura; rapidamente a equipa será, mais uma vez, desmembrada no
final da época. Por outro lado, Filipe Vieira foca de novo o seu projeto, nas
obras - campos de treino, colégios, universidades, hotéis, centros de alto
rendimento, expansão do estádio, etc - remetendo, mais uma vez, a concretização
das ambicionadas vitórias para o médio-prazo. Ora este é o tempo do Benfica ganhar
e, como diz o bom povo “quem muito mato corre pouca lenha apanha”. Por tudo
isto, e pelo que refiro acima, desta vez não terá o meu voto.
João Noronha é um
gestor experimentado e teve a capacidade de reunir à sua volta gente de grande
qualidade; glórias do clube, figuras da cultura, académicos, profissionais
liberais e alto empresariado. Apresenta um projeto de continuidade mas focado
na vertente desportiva, nas vitórias, em detrimento das obras. Porém, a
inclusão de Manuel Vilarinho no seu elenco, deixa-me de pé atrás. Manuel
Vilarinho é o obreiro do Benfica moderno, o Benfica do “vamos ganhar amanhã”, Respeito-o
enquanto benfiquista mas não admiro a sua obra no Benfica; ganhou as eleições
graças à falsa promessa de contratação do Jardel, despediu aquele que veio a
ser o melhor treinador do mundo - que “deu”, ao rival, vários títulos, entre os
quais, um da Liga Europa e outro da Liga dos Campeões -, despachou todos os
jogadores da equipa que tinham mercado - entre eles Van Hooijdonk, João Tomás e
Marchena -, entregou a construção do plantel a José Veiga - que trouxe os
“seus” jogadores, em final de carreira, e se viu a braços com a Justiça,
deixando uns salpicos de lama no clube -, rasgou o contrato de direitos
desportivos com a SIC devolvendo-os à Olivedesportos - um dos pilares de
sustentação do rival - por tuta e meia, e contribuiu “orgulhosamente” para a
prisão de Vale e Azevedo, transformado numa espécie de apátrida ignóbil, mesmo
depois de cumprir, integralmente, pesada pena de prisão, algo que reputo de
deplorável.
Rui Gomes da Silva
apresenta um projeto ambicioso, que consiste no resgate da genuína cultura do
Benfica, assumindo, frontalmente, o objetivo da conquista das Ligas dos
Campeões em futebol sénior masculino e feminino, de futsal, de hóquei em patins
e de voleibol, e na recuperação da supremacia do futebol nacional. Tem
estruturado um projeto para todo o universo do Benfica para o qual apresentará
equipa à altura. A seu favor conta o facto de conhecer a realidade do “clube-sad”
por dentro, de ter assumido a rotura antes de qualquer outro, e de, com o seu
exemplo, ter contribuído para o aparecimento de candidatos idóneos.
Na entrevista que
deu ao Observador em 24 de Setembro de 2020, Rui Gomes da Silva deu a conhecer
algumas ideias chave que norteiam o seu projeto e revelou alguns detalhes da
parceria que estabeleceu com a “start-up” “PAGAAQUI”, visando o robustecimento
do financiamento das modalidades amadoras e das casas do Benfica libertando as
receitas do futebol para o projeto europeu:
“Foi mais difícil ao Benfica conquistar a Liga dos Campeões
Europeus em 1961 e 1962 ou chegar às finais de 1988 e 1990, do que é hoje, o
Benfica, ser campeão europeu.” (…) “O Benfica não é uma entidade financeira,
não vive para fazer negócios ou ser cotado na Bolsa, é um projeto desportivo
que vive de vitórias e títulos.” (…) “O objetivo desta parceria é financiar as
modalidades amadoras e as Casas do Benfica, que muito necessitam de apoio, para
que as receitas do futebol sejam todas canalizadas para o projeto europeu, que
aponta para o título máximo; a Liga dos Campeões. Não pode ser o futebol a
sustentar estas atividades”, explicou Rui Gomes da Silva, que tinha a seu lado
o CEO (diretor executivo) da “PAGAQUI”, João Barros.” (…) “Segundo este, a
aplicação irá disponibilizar aos sócios, simpatizantes e membros das Casas do
Benfica produtos financeiros em melhores condições do que aqueles que são colocados
pela banca tradicional e que servirão, ao mesmo tempo, para financiar o clube
nas modalidades amadoras, sendo que muitas delas, atualmente, não suportam os
seus encargos.”
Há porém um tema que
considero primordial e que ainda não vi refletido nos planos de nenhum dos
candidatos. Trata-se da associação do Benfica ao salazarismo que, 46 anos
depois do 25 de abril, certos setores da sociedade continuam a manter e que tem
sido explorado com mestria e proveito pelo rival moderno do Benfica. Grassa uma
hostilidade crescente, percetível na comunicação social, nas instituições
governativas, judiciais e desportivas contra o clube de Eusébio, Águas, Coluna,
Germano e Cª. São abundantes os casos, recentes ou remotos, que o comprovam. Um
dos mais emblemáticos residiu na designação de “Liga Salazar”, por adeptos do
Porto - sabe-se lá a mando de quem -, ao último campeonato ganho pelo Benfica,
sem que tenha havido, por parte da tutela, qualquer sancionamento. O conceito
implícito é óbvio e parece que funciona (funcionou!); a ascensão desportiva do
Benfica é relacionada como um sinal de deriva autoritária do regime, uma
espécie de retorno ao salazarismo, algo que parece aterrorizar os “democratas”,
enquanto a supremacia desportiva do Porto é vista como um testemunho inequívoco
da consolidação da democracia, o anúncio dos famigerados e utópicos “amanhãs
que cantam”. Entretanto, os benefícios desportivos que têm contemplado o rival
nas últimas décadas, constituem uma espécie de legítimo ressarcimento por
décadas de “sujeição ao regime fascista”. É esta narrativa que tem de ser
erradicada duma vez por todas da sociedade portuguesa. Os lídimos representantes
dos cidadãos benfiquistas devem que inquirir os promotores deste discurso, em
especial aos que detêm responsabilidades públicas, acerca do que pretendem do
Benfica e dos benfiquistas. Que lugar lhes reservam num regime que se pretende
democrático e tolerante.
Considerando esgotado o consulado de Filipe Vieira pelas razões apontadas, terá o meu voto o projeto de Rui Gomes da Silva. Em todo o caso parece-me claro que só com a fusão das candidaturas das oposições será possível derrubar a Direção de Luís Filipe Vieira e construir um futuro mais promissor para o clube.
Pelo BenficaPeniche, 21 de Outubro de 2020
António Barreto
quarta-feira, 14 de outubro de 2020
O Lado Negro das Energias Verdes
O Lado Negro das Energias Verdes
sábado, 10 de outubro de 2020
Uma Proposta de Anteprojeto para o Benfica (3)
A. Os meios comunicacionais
o A
BTV: reformular o seu editorial diversificando temas e intervenientes, com
primazia à emissão de eventos desportivos do clube, à promoção da cultura
desportiva, à participação das velhas e atuais glórias, à intervenção dos
adeptos - desportistas, ex-desportistas, escritores, músicos, académicos,
técnicos ou anónimos -, com abertura a realidades desportivas, ou sociais relacionadas,
exemplares.
o O
Jornal: informação detalhada dos eventos desportivos do clube, com crónicas de
opinião de jornalistas idóneos. Difusão regular, moderada e sistemática, das
várias áreas do conhecimento relacionadas com o desporto; normas, metodologias
de treino, técnica, motricidade, alimentação, etc. Publicação de histórias do
desporto benfiquista e outras de relevância geral. Convocação do contributo de
benfiquistas notáveis, ou de figuras de relevo que, não sendo benfiquistas,
respeitem o clube.
o Redes
sociais: difusão das notícias do clube, com abertura à participação livre dos
adeptos, num ambiente de cordialidade e tolerância.
o As
Casas do Benfica: mais do que uma espécie de centros de dia, cabe-lhes a missão
de aproximação dos adeptos e sócios ao clube - simplificando as operações
correntes, incentivando o seu envolvimento nos eventos desportivos e na
discussão dos assuntos relacionados -, promovendo o desporto local e fazendo a
prospeção local de futuros atletas.
o Externos:
manter atualizado o quadro das plataformas relevantes, os correspondentes
canais de acesso, os respetivos perfis editorais e uma estratégia de ação com
vista à promoção dos interesses do clube.
B.
Gestão Económica:
o Convocar
assessoria especializada com vista a criar as condições de maximização das
receitas correntes atuais e identificação potenciais novas fontes de receita.
o Convocar
assessoria conhecedora dos mercados desportivos internos e externos e das
estratégias de criação de valor desportivo dos atletas e dos correspondentes
canais confiáveis de acesso.
o Definir
uma estratégia de valorização dos atletas da formação do futebol, com e sem
viabilidade de acesso à equipa sénior, com criação de valor para o clube.
o Recuperar
para a esfera do clube a gestão dos direitos desportivos da equipa de futebol sénior,
com o objetivo de maximizar as receitas, de servir de catalisador da nação
benfiquista e de desmoralizar os rivais.
o Implementar
uma estratégia de bilheteira acessível à base social dos adeptos do clube com
vista à atração de novos adeptos e sócios, ao aumento da assistência média dos
jogos e à maximização das receitas de bilheteira e dos contratos de patrocínio.
o Implementar
um catálogo de equipamentos de baixo custo, acessível à base social de adeptos
do clube, promovendo a sua difusão por todo o universo benfiquista, numa ótica
de agregação dos adeptos e otimização das receitas correspondentes.
o Moderar
as ações de marketing, em especial junto dos sócios, prevenindo comportamentos
de rejeição e afastamento do clube por parte daqueles em consequência do
desconforto provocado pelas frequentes ações de persuasão comercial.
C.
Gestão Financeira
o Manter
a estratégia de financiamento pela via obrigacionista universal.
o Identificar
fontes de financiamento tradicionais viáveis, preferencialmente externas.
o Identificar
parcerias estratégicas com aporte de financiamento e know how sem prejuízo do controlo do clube.
o Definir
uma estratégia de redução gradual do passivo financeiro exigível, de curto e
médio prazo, sem prejuízo da capacidade competitiva da equipa de futebol
sénior, alocando ao serviço da dívida, por exemplo, 50% da mais-valia líquida
de todas as transações desportivas.
D.
Previsão do futuro do futebol na Europa
o Europeu:
expansão das atuais Ligas, dos Campeões e Europa e criação de um terceira liga,
com integração dos clubes europeus mais competitivos.
o Nacional:
definhamento progressivo das ligas nacionais e falência de grande parte dos
clubes, remetidos à dependência do financiamento via UEFA e públicos.
o Benfica:
integração no lote dos clubes da primeira liga europeia rivalizando na disputa
dos respetivos títulos graças à redução do atual abismo orçamental.
E.
Fim (provisório)
Peniche,
06 de Setembro de 2020
António Barreto